BLOG DO VICENTE CIDADE

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quinta-feira, 14 de março de 2013

Não foi por acaso que a Tucanalha escolheu a Petrobras para ser destruída. Eles querem minar a capacidade de investimento da empresa e com isso prejudicar o crescimento econômico do Brasil. Calhordas !!


Nº EDIÇÃO: 804 | Capa | 08.MAR.13 - 21:00 | Atualizado em 13.03 - 16:44

A cadeia bilionária de negócios do pré-sal

Como GE, Líder Aviação, 3M, Helibras, Prysmian e Rolls-Royce já estão ganhando muito dinheiro com uma das maiores reservas de petróleo do mundo, uma saga que exige investimentos de US$ 400 bilhões até o final desta década.

Por Rodrigo CAETANO e Luciele VELLUTO
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Confira a entrevista com o editor-assistente de negócios, Rodrigo Caetano

Os engenheiros da Petrobras descobriram, há alguns anos, que jogar pipocas no mar era uma maneira simples, barata e eficiente de simular manchas de óleo em testes de vazamento. Por serem degradáveis, as pipocas também não oferecem riscos à natureza. Além disso, elas são facilmente identificadas. Para adotar a solução como prática habitual, no entanto, era preciso encontrar um fornecedor que se enquadrasse nas políticas de compras da companhia estatal. Um dos escolhidos foi a pipoqueira sergipana Maria Selma Costa, que teve de criar uma empresa formal para prestar o serviço. Em uma das encomendas, Maria Selma chegou a fornecer 20 sacos de 3,2 quilos de pipoca cada, que precisa ser feita sem sal, óleo ou qualquer espécie de gordura. 
 
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Antes desse contrato, ela levaria 180 dias para vender a mesma quantidade a seus clientes, em Aracaju. A história de Maria Selma, uma microempreendedora que fornece à Petrobras, pode ser também uma alegoria para o momento em que vive o setor de petróleo no Brasil. Há, literalmente, um mar de oportunidades pela frente, desde a descoberta de óleo a mais de sete mil metros de profundidade, em 2006, na chamada camada do pré-sal. Apesar disso, pelo menos temporariamente, o mercado está de mau humor com o setor de petróleo. Isso é refletido no valor das ações preferenciais da Petrobras, que se desvalorizaram 25,2% entre 2011 e 2012. Neste ano, os papéis acumulam queda de 2,9% até a quinta-feira 7, após a espetacular alta de 15,1% na semana passada, por conta do aumento de 5% do diesel.
 
É verdade que há dificuldades – nem poderia ser diferente. Afinal, tirar petróleo debaixo de três mil metros de água e quatro mil metros de rocha não é uma tarefa trivial. É verdade também que a Petrobras revisou para baixo todas as suas metas de produção, até o final desta década – em 2020, a expectativa é produzir 4,2 milhões de barris de petróleo por dia, 700 mil a menos do que a previsão anterior. Mas não é menos verdade que quem não está chorando o óleo derramado, a exemplo de Maria Selma, já está ganhando muito dinheiro com o pré-sal brasileiro, cuja produção atingiu o recorde de 281 mil barris em fevereiro, quase 15% de todo o petróleo extraído no Brasil no período. 
 
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No final da década, quase 50% do óleo que jorrar no País deverá vir dos poços do pré-sal. Empresas como as americanas GE e 3M, a brasileira Líder Aviação, a francesa Helibras, a britânica Rolls-Royce e a italiana Prysmian já estão transformando o pré-sal em realidade. E, principalmente, em uma generosa fonte de receita. A GE, por exemplo, fechou um contrato de US$ 2,3 bilhões com a Petrobras para o fornecimento de cabeças de poço, equipamento que fica instalado entre a parte interna e a externa dos poços de petróleo e ajuda a controlar a pressão do óleo extraído. Detalhe: é o maior negócio da história da sua divisão de petróleo e gás no mundo. “Ainda há muito a ser explorado no setor”, afirma João Geraldo Ferreira, presidente da GE Oil & Gas na América Latina. 
 
Não por acaso, o Brasil virou uma espécie de “menina dos olhos” para Jeffrey Immelt, o CEO mundial da companhia. Immelt escolheu o País para instalar o novo centro global de pesquisas da GE, que terá na indústria de petróleo e gás uma de suas especialidades. O empreendimento, que está sendo construído na Ilha do Fundão, no Rio de Janeiro, e deverá empregar cerca de 200 pesquisadores, receberá recursos da ordem de R$ 500 milhões. Immelt, por sinal, procura demonstrar pessoalmente seu apreço pelo País,que visitou pelo menos cinco vezes desde 2008. Seu antecessor, o legendário Jack Welch, que comandou a GE durante duas décadas, veio apenas uma vez. Os investimentos para viabilizar o pré-sal são colossais, como tudo o que envolve o setor de petróleo. 
 
A previsão é de que serão necessários US$ 400 bilhões até 2020, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP). O valor é superior ao PIB dos Emirados Árabes, oitavo maior produtor mundial de petróleo, e equivalente ao da África do Sul, que ocupa a 29ª posição entre as maiores economias do mundo. Somente a Petrobras vai investir nos próximos três anos US$ 70 bilhões. Entre as empresas privadas, a inglesa BG Group prevê injetar US$ 30 bilhões e a espanhola Repsol outros US$ 14 bilhões no pré-sal, apenas para citar alguns exemplos. No fim da década, dois milhões de novos empregos qualificados devem ser gerados por conta da exploração do pré-sal. Toda essa dinheirama, por si só, já é uma boa notícia. 
 
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Mas, quando se examinam seus reflexos no restante das atividades, cresce de importância: cada R$ 1 bilhão investido no setor de petróleo movimenta outros R$ 2 bilhões na economia brasileira, segundo estudo do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas. Explica-se: a cadeia petrolífera é uma das mais longas da indústria. Ela inclui desde tradicionais fornecedores de aço, cabos, turbinas, navios e sondas, passa pelas empresas de transporte que levam funcionários para trabalhar nas plataformas em alto-mar, até chegar às companhias que servem o trivial arroz com feijão nessas verdadeiras cidades flutuantes, que funcionam 24 horas por dia, durante 365 dias por ano (veja infográfico ao final da reportagem).
 
Nelas, são servidas cinco refeições por dia. Há também opções de lazer, como cinema, quadra de futebol, piscina e lan house para os cerca de 200 trabalhadores que normalmente “moram” por 14 dias seguidos nessas plataformas, trabalhando em turnos de 12 horas. Em caso de emergência, uma unidade hospitalar garante os primeiros atendimentos. Todos esses serviços são prestados por empresas terceirizadas, que não cobram barato dado o grau de complexidade da operação. “Cuidamos de todo o dia a dia da plataforma, desde a alimentação até o entretenimento e pequenos reparos”, afirma Stephane Champagne, diretor da área de bases remotas da francesa Sodexo Puras. No ano passado, esse segmento de negócios da empresa cresceu 15%. A segurança é outro pré-requisito dessas cidades em alto-mar. 
 
Afinal, as plataformas de petróleo chegam a ser instaladas a mais de 300 quilômetros de distância da costa brasileira. Quem ganha com isso é a 3M. A empresa americana fornece, entre outros, materiais refletivos, utilizados na localização de pessoas na água, por exemplo. Nos últimos três anos, a participação do setor de petróleo em seu faturamento dobrou, passando de R$ 30 milhões para R$ 60 milhões – 4% de sua receita de R$ 2,9 bilhões no Brasil. Até 2020, essa fatia deve ultrapassar a casa dos 10%. “Estamos estudando a abertura de um laboratório de pesquisas no Rio de Janeiro somente para atender o setor de petróleo”, afirma José Varela, presidente da subsidiária brasileira da 3M. A mineira Líder Táxi Aéreo é outro exemplo de empresa não tão óbvia que lucra com a saga brasileira do pré-sal: ela se especializou em transportar passageiros por helicópteros para as plataformas de petróleo. 
 
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Fundada pelo comandante José Afonso Assumpção, em 1958, em Belo Horizonte, a empresa tinha previsão de entrar para o restrito clube das companhias bilionárias brasileiras em 2014. Mas vai antecipar o acesso em um ano. Motivo: a alta demanda por transporte para as plataformas em alto-mar. “O otimismo do mercado é inegável”, diz Eduardo Vaz, presidente da Líder. “Compramos dois helicópteros para ficar de reserva, mas teremos de colocá-los em operação por causa da forte demanda.” Não é qualquer helicóptero que atende às rígidas especificações do transporte de passageiros para as plataformas. As aeronaves precisam ser de grande porte, capazes de enfrentar as duras condições climáticas em alto-mar e ter autonomia para voar por 300 quilômetros e voltar. 
 
Cada helicóptero, que transporta até 18 passageiros, custa cerca de R$ 30 milhões. Nos últimos dois anos, a Líder investiu US$ 200 milhões na compra de aeronaves e na melhoria da sua infraestrutura de apoio e manutenção. Para atender as plataformas que vão explorar as jazidas na Bacia de Santos, que juntamente com a Bacia de Campos concentra quase todos os poços do pré-sal, a empresa está ampliando sua base, em Itanhaém, no litoral sul de São Paulo. Com esses investimentos, a expectativa é de obter um crescimento de 28,8% na receita em 2013, ultrapassando R$ 1 bilhão. A perspectiva de expansão para a Líder é ainda mais promissora. Até 2015, o número de passageiros transportados para as plataformas de petróleo deve dobrar, chegando a 1,6 milhão ao ano, segundo estimativas do setor. 
 
Isso significa que pelo menos 100 novos helicópteros terão de entrar em operação. Esse ritmo acelerado representa também uma oportunidade para as fabricantes de aeronaves. Para a Helibras, que fabrica os helicópteros da francesa Eurocopter, no País, isso é tão bom quanto achar petróleo no quintal de casa. “A descoberta do pré-sal redefiniu nosso mercado”, afirma Eduardo Marson, presidente da Helibras. A empresa investiu R$ 420 milhões em uma nova fábrica na cidade de Itajubá (MG), inaugurada em outubro do ano passado, para produzir o EC725, utilizado pelas Forças Armadas Brasileiras e pela indústria de petróleo. Dos cerca de 200 helicópteros capazes de atender esse mercado, que estão voando no Brasil, um quarto foi produzido pela companhia. 
 
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DESCONFORTO “Aqui é desconforto 365 dias por ano, 24 horas por dia.” A frase, um mantra da atual presidente da Petrobras, Graça Foster, dá o tom dos enormes desafios que a estatal brasileira, mas também boa parte do setor de petróleo, tem pela frente. “Você não pode ter conforto”, disse Graça, em entrevista à DINHEIRO, em novembro do ano passado. “Estamos atrasados em dois anos.” Atrasar, nesse caso, tem um efeito prático para os fornecedores. Eles fizeram um planejamento prevendo um nível de pedidos que não aconteceu. “A demanda não cresceu tanto quanto imaginávamos”, afirma o engenheiro Armando Comparato Jr., presidente da Prysmian, antiga Pirelli Cabos, que investiu R$ 230 milhões em uma fábrica de tubos flexíveis para fornecer à Petrobras. “Agora é ter paciência.” Ao que tudo indica, ele terá. “Não vamos rever nossos investimentos.” 
 
É fácil de entender por que Comparato Jr. irá manter firme sua aposta nas oportunidades bilionárias geradas pela cadeia do petróleo no pré-sal brasileiro. Em 2012, a Prysmian faturou R$ 340 milhões com vendas de tubos flexíveis e cabos para as empresas do setor, o equivalente a 17% de suas receitas de R$ 2 bilhões. É uma cifra e tanto para uma empresa que começou a fornecer esse produto em 2008, quando foi convidada pela Petrobras a desenvolver tubos específicos para o segmento. Para isso, a fabricante teve de se instalar nas proximidades da Bacia de Campos. Com seis quilômetros de comprimento e pesando 300 toneladas, os tubos vendidos para a Petrobras não podiam ser transportados por via terrestre. 
 
A fábrica que iria atender à demanda da petroleira foi inaugurada apenas em 2011, em Vila Velha (ES), próximo ao porto da cidade. “Esperamos um aumento considerável dos negócios a partir de 2015”, diz Comparato Jr. Atualmente, a Prysmian estuda exportar parte da sua produção. A política que exige pelo menos 65% de conteúdo nacional nos equipamentos do pré-sal tem sido alvo de críticos do modelo brasileiro de exploração do petróleo. Essa estratégia poderia provocar atrasos e aquisições a preços muito altos, fora dos patamares mundiais. “Aquilo que é possível fazer aqui tem de se fazer aqui”, diz Graça Foster. No fim de fevereiro, Graça demonstrou o seu pragmatismo. A Petrobras transferiu para a China parte da construção de quatro plataformas que serão utilizadas na Bacia de Santos. 
 
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Inicialmente, elas seriam construídas integralmente nos estaleiros Inhaúma, no Rio de Janeiro, arrendado pela Petrobras em parceria com um consórcio formado pelas construtoras Odebrecht, OAS e UTC; e Rio Grande, do grupo Engevix, no Rio Grande do Sul. Fez isso sem descumprir a regra de conteúdo local, pois os serviços realizados em estaleiros chineses representam menos de 3% do valor total dos contratos, segundo a estatal. A despeito de algumas dificuldades, a política de conteúdo local incentiva os investimentos no Brasil. A Rolls-Royce ilustra esse exemplo. A companhia britânica está desembolsando US$ 100 milhões na construção de uma fábrica no Rio de Janeiro. 
 
A unidade produzirá as turbinas, que geram toda a energia dos navios usados na exploração do pré-sal. Até 2020, a Petrobras contratará 38 dessas embarcações – que substituem as antigas plataformas. Desse total, 28 serão usadas exclusivamente no pré-sal. Caso ganhe as concorrências, a estimativa é de que o faturamento da operação brasileira da Rolls-Royce salte de US$ 700 milhões para US$ 2 bilhões daqui a sete anos. “Não é fácil trabalhar com a Petrobras, ela é muito exigente”, diz Francisco Itzaina, presidente da Rolls-Royce. “Mas enxergamos muitas possibilidades de negócios.” Há, de fato, motivos para tanto otimismo. Os quatro últimos reajustes da gasolina e do diesel devem reforçar o caixa da Petrobras – que vende combustível a preços subsidiados para evitar um descontrole da inflação. 
 
Além disso, até o fim deste ano, cinco novas unidades de produção vão entrar em operação. Entre 2014 e 2016, serão 11 novas plataformas. A produção de petróleo, que permaneceu na casa dos dois milhões de barris diários, nos últimos dois anos, deverá voltar a crescer a partir do segundo semestre, entrando em uma rota ascendente até 2020. De acordo com estimativa da consultoria americana Ernst & Young, o Brasil estará produzindo 5,3 milhões de barris de petróleo por dia em 2030. É energia suficiente para garantir não apenas a autossuficiência do País em petróleo, mas também o lucro de milhares de empresas. 
 
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O caminho do ouro negro
 
Como se tornar um fornecedor da Petrobras e entrar para uma das maiores cadeias de negócios do mundo
 
A Petrobras possui aproximadamente 14 mil fornecedores. Desse universo, apenas 15% faturam mais de R$ 100 milhões por ano, segundo pesquisa da consultoria americana Ernst & Young. Portanto, não é preciso ser um gigante para entrar na disputa pelos US$ 400 bilhões de investimentos previstos no pré-sal até o fim desta década. Para chegar lá, no, entanto, é necessário seguir diversos requisitos. O primeiro passo é cadastrar a empresa na lista de possíveis fornecedores. Uma série de documentos é exigida. A candidata não pode ter dívidas fiscais, por exemplo, e precisa comprovar de alguma forma que já forneceu o material ou serviço em questão para outras empresas. 
 
Passada essa fase, é emitido o Certificado de Registro e Classificação Cadastral (CRCC). Com ele, é possível participar das licitações. Todo o processo, desde o cadastramento, é feito eletronicamente, por meio do site Petronect. As exigências não terminam com o encerramento do leilão. Na hora de entregar os produtos ou prestar um serviço, a estatal tem uma série de normas, muitas vezes não relacionadas com o negócio do fornecedor. Caminhões que fazem entregas nas unidades da companhia, por exemplo, não podem estar com os pneus carecas, nem sujos. 
 
Os funcionários terceirizados também precisam cumprir todas as normas de segurança exigidas nas plataformas. A Petrobras mantém uma parceria com o Serviço de Apoio às Pequenas e Micro Empresas (Sebrae) para capacitar empresas de médio e pequeno porte a entrarem na sua rede de fornecedores. Os candidatos são orientados durante todos os processos de certificação exigidos. Desde 2005, as empresas que fizeram parte desse programa já movimentaram R$ 5,5 bilhões. Pequenos e médios empreendedores podem, ainda, antecipar pagamentos de contratos firmados com a estatal por meio dos Fundos de Investimento em Direitos Creditórios.

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