Em economia, existe um importante conceito denominado “elasticidade-preço da demanda” que mensura as respostas dadas pela demanda às alterações no preço de um dado bem ou serviço. Como já demonstrado neste espaço, diversas questões econômicas são plenamente aplicáveis ao mundo futebol, e esta não é uma exceção.
A fórmula da elasticidade-preço é relativamente simples:
Ep = ΔQ/ΔP x P/Q
Elasticidades entre 0 e 1 presumem demandas inelásticas, ou seja, que respondem menos que proporcionalmente ao aumento (ou à redução) do preço. Neste caso, o aumento do preço costuma ser lucrativo - o que geralmente se verifica em mercados monopolistas ou no caso de bens de primeira necessidade. Acima de 1, a representação é de uma demanda elástica: aumentos no preço a reduzirão de maneira intensiva, e vice-versa.
Flamengo e Botafogo se enfrentaram duas vezes nas últimas duas semanas (17 de fevereiro e 3 de março). Gerou polêmica a decisão da diretoria do Flamengo – chancelada pelo Botafogo – de aumentar os preços dos ingressos para a segunda partida, válida pela semifinal da Taça Guanabara. Com o intervalo exíguo entre os dois confrontos e todos os parâmetros conhecidos, torna-se possível uma análise do perfil da demanda de ambas as torcidas, bem como do espetáculo como um todo.
Flamengo 1 x 0 Botafogo – 17/02/2013
Renda – R$ 855.270,00
Público pagante – 22.227
Ticket médio (preço 1) – R$ 38
Pagantes – torcida do Flamengo: 14.665 (66%)
Pagantes – torcida do Botafogo: 7.562 (34%)
Flamengo 0 x 2 Botafogo – 03/03/2013
Renda – R$ 831.380,00
Público pagante – 17.554
Ticket médio (preço 2) – R$ 47
Pagantes – torcida do Flamengo: 12.485 (71%)
Pagantes – torcida do Botafogo: 5.069 (29%)
Fonte: FFERJ
Ao aplicarmos a fórmula da elasticidade-preço, temos o seguinte panorama:
Ep = ΔQ/ΔP x P/Q
Ep = 17.554 – 22.227/47 – 38 x 38/22.227
Ep = 0,88* – Elasticidade da demanda dos torcedores (agregados) de Flamengo x Botafogo.
*Em módulo, ou seja, anulando o sinal negativo
O que isto quer dizer? Que a demanda por ingressos nas partidas entre Mengão e Glorioso é inelástica, permitindo aumentos de preços sem que a queda no número de torcedores seja sentida em sua plenitude. Tanto é que o ticket médio (que aqui representa o preço) subiu 23% (de R$ 38 para R$ 47), enquanto a queda do público pagante (22.227 para 17.554) foi de 21%. Havia, portanto, espaço para a referida majoração. E a explicação vem do perfil da demanda dos torcedores do Flamengo:
Ep (Flamengo) = ΔQ/ΔP x P/Q
Ep (Flamengo) = 12.485 – 14.665/47 – 38 x 38/14.665
Ep (Flamengo) = 0,62
Todo o mais constante, conclui-se que a demanda por ingressos dos rubro-negros é extremamente inelástica. De fato, a majoração de 23% no preço levou a uma redução na presença da Nação de “apenas” 14% (eram 14.665, tornaram-se 12.485). É como se “ingressos de futebol” para os flamenguistas não fossem um artigo supérfluo. Veremos abaixo que esta característica é a razão pela qual o prejuízo não foi maior.
Ep (Botafogo) = ΔQ/ΔP x P/Q
Ep (Botafogo) = 5.069 – 7.562/47 – 38 x 38/7.562
Ep (Botafogo) = 1,39
Conforme já foi dito, elasticidades acima do unitário significam demandas sensíveis a preço. Sendo assim, contrapõe-se o senso comum de que os botafoguenses compareceriam mais mediante ingressos caros. A majoração de 23% levou a uma queda de 32% no número de alvinegros.
Isso significa que a contestada decisão de se majorar preços para a semifinal foi acertada?
Depende do ponto de vista. Se considerarmos apenas o conceito de elasticidade-preço, sim. Mas em boa dose por uma única torcida – a do Flamengo, que tem peso decisivo nos números finais. Em contrapartida, os preceitos econômicos que mensuram o preço maximizador de lucros são outros. Para tanto, seria necessário elaborar cálculos mais complexos, como de receita e custo marginal. Mas a verificação da capacidade ociosa aponta que o preço de equilíbrio seria bem menor do que o praticado nos dois clássicos:
Preço: R$ 47 –> Público 17.554 -> Renda R$ 831.380,00
Preço: R$ 38 -> Público 22.227 -> Renda R$ 855.270,00
Preço: R$ 29** (projeção) -> Público 30 mil (projeção) -> Renda R$ 870.00,00 (projeção)
** Em linha com setores Norte/Sul a R$ 20, setores Leste/Oeste superior a R$ 40 e inferior a R$ 50 – todos com meia-entrada.
Lembrando que existem custos fixos que existirão independente da quantidade de público e do total arrecadado. Arrecadar mais – mesmo que baseado em ticket médio inferior – é um benefício por esta ótica. Adicionalmente, clássicos com casa cheia valorizam o “produto” futebol carioca – algo que não vem acontecendo. Por fim, ainda que o aumento de preços tenha beneficiado o Flamengo (com sua torcida comparecendo mais que proporcionalmente), em campo o que se viu não correspondeu à referida lógica. Vitória alvinegra por 2 x 0.
Um grande abraço e saudações!
A fórmula da elasticidade-preço é relativamente simples:
Ep = ΔQ/ΔP x P/Q
Elasticidades entre 0 e 1 presumem demandas inelásticas, ou seja, que respondem menos que proporcionalmente ao aumento (ou à redução) do preço. Neste caso, o aumento do preço costuma ser lucrativo - o que geralmente se verifica em mercados monopolistas ou no caso de bens de primeira necessidade. Acima de 1, a representação é de uma demanda elástica: aumentos no preço a reduzirão de maneira intensiva, e vice-versa.
Flamengo e Botafogo se enfrentaram duas vezes nas últimas duas semanas (17 de fevereiro e 3 de março). Gerou polêmica a decisão da diretoria do Flamengo – chancelada pelo Botafogo – de aumentar os preços dos ingressos para a segunda partida, válida pela semifinal da Taça Guanabara. Com o intervalo exíguo entre os dois confrontos e todos os parâmetros conhecidos, torna-se possível uma análise do perfil da demanda de ambas as torcidas, bem como do espetáculo como um todo.
Flamengo 1 x 0 Botafogo – 17/02/2013
Renda – R$ 855.270,00
Público pagante – 22.227
Ticket médio (preço 1) – R$ 38
Pagantes – torcida do Flamengo: 14.665 (66%)
Pagantes – torcida do Botafogo: 7.562 (34%)
Flamengo 0 x 2 Botafogo – 03/03/2013
Renda – R$ 831.380,00
Público pagante – 17.554
Ticket médio (preço 2) – R$ 47
Pagantes – torcida do Flamengo: 12.485 (71%)
Pagantes – torcida do Botafogo: 5.069 (29%)
Fonte: FFERJ
Ao aplicarmos a fórmula da elasticidade-preço, temos o seguinte panorama:
Ep = ΔQ/ΔP x P/Q
Ep = 17.554 – 22.227/47 – 38 x 38/22.227
Ep = 0,88* – Elasticidade da demanda dos torcedores (agregados) de Flamengo x Botafogo.
*Em módulo, ou seja, anulando o sinal negativo
O que isto quer dizer? Que a demanda por ingressos nas partidas entre Mengão e Glorioso é inelástica, permitindo aumentos de preços sem que a queda no número de torcedores seja sentida em sua plenitude. Tanto é que o ticket médio (que aqui representa o preço) subiu 23% (de R$ 38 para R$ 47), enquanto a queda do público pagante (22.227 para 17.554) foi de 21%. Havia, portanto, espaço para a referida majoração. E a explicação vem do perfil da demanda dos torcedores do Flamengo:
Ep (Flamengo) = ΔQ/ΔP x P/Q
Ep (Flamengo) = 12.485 – 14.665/47 – 38 x 38/14.665
Ep (Flamengo) = 0,62
Todo o mais constante, conclui-se que a demanda por ingressos dos rubro-negros é extremamente inelástica. De fato, a majoração de 23% no preço levou a uma redução na presença da Nação de “apenas” 14% (eram 14.665, tornaram-se 12.485). É como se “ingressos de futebol” para os flamenguistas não fossem um artigo supérfluo. Veremos abaixo que esta característica é a razão pela qual o prejuízo não foi maior.
Ep (Botafogo) = ΔQ/ΔP x P/Q
Ep (Botafogo) = 5.069 – 7.562/47 – 38 x 38/7.562
Ep (Botafogo) = 1,39
Conforme já foi dito, elasticidades acima do unitário significam demandas sensíveis a preço. Sendo assim, contrapõe-se o senso comum de que os botafoguenses compareceriam mais mediante ingressos caros. A majoração de 23% levou a uma queda de 32% no número de alvinegros.
Isso significa que a contestada decisão de se majorar preços para a semifinal foi acertada?
Depende do ponto de vista. Se considerarmos apenas o conceito de elasticidade-preço, sim. Mas em boa dose por uma única torcida – a do Flamengo, que tem peso decisivo nos números finais. Em contrapartida, os preceitos econômicos que mensuram o preço maximizador de lucros são outros. Para tanto, seria necessário elaborar cálculos mais complexos, como de receita e custo marginal. Mas a verificação da capacidade ociosa aponta que o preço de equilíbrio seria bem menor do que o praticado nos dois clássicos:
Preço: R$ 47 –> Público 17.554 -> Renda R$ 831.380,00
Preço: R$ 38 -> Público 22.227 -> Renda R$ 855.270,00
Preço: R$ 29** (projeção) -> Público 30 mil (projeção) -> Renda R$ 870.00,00 (projeção)
** Em linha com setores Norte/Sul a R$ 20, setores Leste/Oeste superior a R$ 40 e inferior a R$ 50 – todos com meia-entrada.
Lembrando que existem custos fixos que existirão independente da quantidade de público e do total arrecadado. Arrecadar mais – mesmo que baseado em ticket médio inferior – é um benefício por esta ótica. Adicionalmente, clássicos com casa cheia valorizam o “produto” futebol carioca – algo que não vem acontecendo. Por fim, ainda que o aumento de preços tenha beneficiado o Flamengo (com sua torcida comparecendo mais que proporcionalmente), em campo o que se viu não correspondeu à referida lógica. Vitória alvinegra por 2 x 0.
Um grande abraço e saudações!
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