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quarta-feira, 13 de março de 2013

O novo mapa da indústria


ECONOMIA

Nº EDIÇÃO: 804 | Economia | 08.MAR.13 - 21:00

O novo mapa da indústria

Regiões tradicionais, como São Paulo e Rio de Janeiro, cedem espaço para novas fronteiras produtivas no Nordeste e Centro-Oeste.

Por Denize BACOCCINA e Cristiano ZAIA
Em 2010, quando decidiu centralizar a produção das centenas de marcas de medicamentos das cinco empresas que havia comprado, nos três anos anteriores, o presidente da Hypermarcas, Cláudio Bergamo, não teve dúvidas. Escolheu Anápolis, em Goiás, a 160 quilômetros de Brasília, bem no coração do País, para instalar a Brainfarma, seu braço de fármacos. Na última sexta-feira de fevereiro, dia 22, quando inaugurou a expansão da fábrica, o grupo consolidou a mudança. Com a transferência, quatro fábricas foram fechadas, três no Estado de São Paulo e uma em Minas Gerais. A nova unidade, que demandou investimentos de R$ 250 milhões, tem capacidade para produzir até 10 bilhões de comprimidos por ano, e será responsável por 90% dos produtos farmacêuticos da Brainfarma. 
 
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Bergamo, da Hypermarcas: o braço de fármacos da empresa foi instalado em Anápolis (GO)
 
Os 10% restantes serão produzidos na unidade que restou no Rio de Janeiro. “Há um grande Brasil acontecendo fora do eixo Rio – São Paulo”, diz Bergamo. “E isso, às vezes, não é percebido pelas empresas.” Talvez a maioria não perceba, mas a Hypermarcas não é a única a bater em retirada dos grandes centros. Uma combinação de aumento do poder de compra dos brasileiros, incentivos fiscais e melhoria na logística em outras regiões, fez com que muitas companhias migrassem para cidades menos industrializadas para instalar suas fábricas, em busca de custos menores e de maior competitividade. “Meus custos operacionais são 30% a 35% menores em Anápolis, do que os de São Paulo ou do Rio”, diz Bergamo. 
 
A combinação de mão de obra treinada e boa infraestrutura, com hidrovias e ferrovias até o porto de Santos a custos competitivos, também foi o que levou a Eldorado Brasil, empresa de celulose do grupo J&F, a escolher o município de Três Lagoas, em Mato Grosso do Sul, para instalar sua fábrica. A Eldorado encontrou, ainda, o solo perfeito para o plantio de eucalipto, matéria-prima da celulose, em terras já degradadas pelas pastagens, com um preço menor do que o das terras paulistas. A colaboração do governo estadual também ajudou. “O Estado tem atraído muitos projetos novos porque é ágil na tomada de decisões”, diz José Carlos Grubisich, presidente da Eldorado. 
 
A primeira fase do empreendimento, que prevê a produção de 5 milhões de toneladas de celulose por ano, em 2020, demandou R$ 6,2 bilhões. Indicadores da produção industrial e do consumo de energia mostram que a descentralização vem ganhando força. Em 2012, o consumo nacional de eletricidade do setor industrial ficou estável em relação ao ano anterior, de acordo com os dados da Empresa de Planejamento Energético. Mas o consumo regional variou bastante. Enquanto a região Sudeste, que responde por 54% do total brasileiro, registrou uma redução de 1,6%, no Centro-Oeste a indústria consumiu 11,6% a mais do que em 2011. 
 
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Grubisich, da Eldorado: mão de obra treinada, logística
e solo fértil em Três Lagoas (MS)
 
A produção industrial, calculada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística , também teve grandes variações regionais. A queda de 2,7% na média nacional, do ano passado, mascara um crescimento de 4,2%, na Bahia, e de 3,8%, em Goiás. No mesmo período, a produção caiu 3,9%, em São Paulo, e 7%, no Amazonas. “O ano passado foi ruim para a indústria paulista, por causa da queda no setor de máquinas e equipamentos, que se concentra aqui”, afirma Paulo Francini, diretor do departamento de estudos econômicos, da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. Mas o recuo de São Paulo já vem de longa data. Entre 1992 e 2011, o peso da indústria paulista caiu de 46,5% para 38,2% do total. 
 
“Para enfrentar a concorrência, especialmente da China, as empresas estão buscando regiões mais competitivas”, diz José Augusto Fernandes, diretor de Estratégias da Confederação Nacional da Indústria. O Centro-Oeste deve ter uma expansão ainda maior, quando forem concluídos grandes projetos de ferrovias, como a Norte-Sul e a Oeste-Leste, que seguem a rota do agronegócio, da produção no interior, até os portos. “Isso reduzirá o custo do frete”, diz Fernandes. Além do agronegócio do Centro-Oeste, o crescimento do Nordeste também atraiu empresas à região, em busca de algo mais do que os incentivos fiscais. Um exemplo é a JAC Motors. 
 
A montadora chinesa escolheu o polo siderúrgico de Camaçari, na Bahia, para instalar sua fábrica, orçada em R$ 1 bilhão, e projetada para produzir 100 mil veículos por ano a partir de 2014. “Camaçari tem um parque de fornecedores já instalado, facilidades logísticas e proximidade com o mercado de automóveis que mais cresce no Brasil”, diz o presidente da JAC no Brasil, Sérgio Habib, referindo-se à expansão acima da média nacional do mercado nordestino. Segundo a Fenabrave, a participação do Nordeste no total de emplacamentos de carros passou de 14,63%, no fim de 2008, para 16,79% no começo de 2013. A produção fora do eixo São Paulo-Rio já é uma estratégia antiga da Alpargatas, fabricante de calçados, como as sandálias Havaianas. 
 
As quatro fábricas da empresa controlada pela Camargo Corrêa estão localizadas no Nordeste – em Santa Rita, João Pessoa e Campina Grande, na Paraíba, e Carpina, em Pernambuco. A nova unidade, que deve começar a operar em abril, e vai elevar a produção dos atuais 250 milhões de pares para 350 milhões, fica em Montes Claros, no norte de Minas. Embora fora da região nordestina, o município se beneficia dos incentivos da Sudene. “Os custos de produção são de 10% a 15% menores do que nas regiões Sul e Sudeste”, diz Márcio Utsch, presidente da Alpargatas. Na prática, a descentralização industrial foi atrás da mudança no perfil de consumo que ocorreu no País. E onde tem consumo tem investimento.
 
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