BLOG DO VICENTE CIDADE

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quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Belém 400 Anos: Como é o BRT de Curitiba. Para entender por que o ...

Belém 400 Anos: Como é o BRT de Curitiba. Para entender por que o ...:

Como é o BRT de Curitiba. Para entender por que o BRT de Belém está mal planejado.

Retomo o assunto do BRT de Belém, sobre o qual falei antes, no postsobre o Ação Metrópole. O que o motiva é, simplesmente, um comentário de uma tia, que, vivendo hoje em Curitiba, e em férias em Belém, observou, enquanto passávamos pela Almirante Barroso, que há um grande problema com o BRT de Belém: o fato de ele ser, simplesmente, um linhão, sem linhas de integração de fato, que cortem a cidade em outras direções.
Foi apenas a observação de uma usuária do BRT mais conhecido do mundo, não de uma especialista. Fiquei pensando se procede. De fato, afinal, o BRT de Belém tem um perfil troncal, sem linhas radiais ou circulares. Em que medida isso pode constituir um problema para um sistema desse gênero?
Bom, antes vejamos melhor como é o BRT de Curitiba. O gráfico abaixo sintetiza sua estrutura geral:


É claro que a expansão urbana de Curitiba se dá num formato radial, ao contrário de Belém, mas o que interessa, de fato, não é o formato, e sim as características desses sistema, as quais seriam:

Ampla acessibilidade com o pagamento de uma única tarifa;
Prioridade do transporte coletivo sobre o individual;
Caracterização tronco/alimentador;
Terminais de integração fechados;
81Km de canaletas, vias ou faixas exclusivas, caracterizando corredores de transporte;
Terminais fora dos eixos principais, que ampliam a integração.
Abrangência Metropolitana.
Nenhuma dessas características estará presente no BRT de Belém. Em primeiro lugar porque o projeto tem visão restrita: é estritamente municipal, não se articula dentro de um programa mais amplo, que pense conjuntamente todos os municípios da região metropolitana – enquanto que a população desses municípios será usuária quotidiana do sistema de transporte instalado.
Em segundo lugar porque, até o momento, ninguém informou como se dará a alimentação/integração do tronco, pelas linhas que o cortam.
A imagem abaixo mostra a extensão do sistema BRT de Curitiba:



Outro ponto a considerar, e que compreendo ser o problema real da observação feita pela minha tia, é que o sistema de BRT de Curitiba é pensado de modo integrado com as diferentes demandas de transporte da cidade, e não como uma via troncal única. O BRT de Belém é concebido como uma via única que, pelo volume de sua demanda e pela alta concentração de empresas de transporte, que continuarão a atuar sem qualquer racionalização (critica que já fiz no posta anterior referido), com suas múltiplas e desnecessárias linhas, irão sobrecarregar essa via única, ampliando o caos em que já se vive, porque não oferece condições de diminuição da sobrecarga.
Como funciona em Curitiba? O conceito é o seguinte: o sistema é sempre pensado como duas vias:

Via Central: Canaleta central exclusiva para a circulação das linhas expressas (transporte de massa) e duas vias lentas para acesso às atividades lindeiras. A via exclusiva confere ganhos significativos para a velocidade operacional das linhas expressas.
Vias Estruturais: Duas vias paralelas à via central com sentido único, situadas a uma quadra de distância do eixo, destinadas às ligações centro-bairro e bairro-centro, para a circulação dos veículos privados.
Em Belém teremos apenas a via central.
Bom, é claro que se dirá algo como: é o começo, depois haverá uma expansão, nem em Curitiba se fez tudo de uma só vez...
E isso é verdade. Porém, em Curitiba, o sistema surge de um planejamento cuidadoso, dotado de um cronograma de expansão eficiente.
Em Belém não se tem nada disso. Não se pensou no futuro, nem em expansão. Não se tem conceito.
Tem-se a eterna incompetência do prefeito Duciomar e de sua equipe de nulos.

Corredores de Transporte

E por falar em conceito, vamos entender melhor qual é o verdadeiro conceito de um BRT. É o de ser um corredor de transporte – e não, exatamente, uma via.
Por corredor de transporte se deve entender o eixo estrutural de desenvolvimento urbano, com as seguintes características:

Ordenam o crescimento linear do centro;
Caracterizam as maiores densidades demográficas;
Priorizam a instalação de equipamentos urbanos;
Concentram a infra-estrutura urbana;
Definem uma paisagem urbana própria;
Traduzem os mecanismos do planejamento integrado do uso do solo;
Ordenam o sistema viário e o transporte coletivo;
Ou seja, por meio do planejamento do transporte público integrado se consegue racionalizar a própria vida urbana, gerando qualidade de vida para todos.
Um prova disso: Em 1974, 92% dos usuários da rede de ônibus local se deslocavam, cotidianamente, até a região central de Curitiba. Já em 2003, em função da estruturação dos corredores de transporte, apenas 30% dos usuários tem como destino o centro da cidade.
Na foto abaixo dá para entender melhor essa filosofia: em vermelho e em verde tem-se a via central. Em azul, as vias estruturais. É o seu conjunto que produz o efeito racionalizador urbano:

Terminais de Integração
Mais um ponto a considerar, que se apresenta como fundamental na estruturação do sistema de Curitiba, são os “terminais de integração” – estações que permitem a integração entre as diversas linhas que formam a Rede Integrada de Transporte (expressas, alimentadoras, linhas diretas e interbairros).
Ok, a publicidade de Duciomar informa que o BRT de Belém terá também esses terminais de integração. Mas estou convencido de que a turma desse prefeito infeliz não tem ideia do que é isso, de fato.
A questão é: o que será integrado? Em Belém, o máximo de integração que haverá é com as outras linhas de ônibus, todas elas de grande extensão e quase todas elas, em algum momento de seu trajeto, passando pelo mesmo corredor urbano que constitui o tronco do BRT.
Em Curitiba o BRT integra linhas alimentadoras mais curtas, com melhor atendimento aos bairros, ampliando o número de viagens a partir da diminuição do tempo de percurso.
Por lá, os terminais promovem ainda a estruturação dos bairros, concentrando atividades diversas no seu entorno.
A imagem abaixo mostra a estrutura de uma dessas estações de integração:


Por fim, é interessante ver como o sistema de Curitiba possui toda uma coerência: não se trata de pensar somente o BRT troncal, tudo está integrado e a população identifica os componentes do sistema por meio das cores dos veículos, também reproduzidas nas indicações de direção. A imagem seguinte mostra a composição da frota da região metropolitana de Curitiba. Nela, podem-se ver os vários tipos de veículos, com sua capacidade de passageiros. Percebe-se como a coerência a racionalidade fazem toda a diferença. O expresso troncal principal, por exemplo, tem apenas 2 linhas. Em Belém haverá 30, 35 linhas, sem nenhuma coerência.
Pior, as linhas troncais farão o papel, também, de linhas alimentadoras, complicando ainda mais a situação.
O quadro seguinte mostra a composição da frota do sistema de Curitiba:


Gestão e Operação do Sistema
Como funciona o sistema de Curitiba? Em síntese, uma lei, de 2008, criou uma empresa pública, a URBS - Urbanização de Curitiba S.A., a quem compete a regulação, o gerenciamento, a operação, o planejamento e a fiscalização do chamado “Sistema de Transporte Coletivo de Passageiros do Município de Curitiba” e de sua região metropolitana.
Essa empresa não possui veículos. Ela contrata outras empresas que vão efetivar o serviço, apenas gerenciando todo o processo. Sua funções, em síntese, são:

Contratar as empresas operadoras;
Definir itinerários, pontos de paradas e horários;
Determinar tipos e características dos veículos;
Vistoriar a frota e fiscalizar os serviços;
Definir o custo por quilômetro e propor tarifa;
Controlar a quilometragem rodada e passageiros;
Gerenciar a receita e remunerar as empresas por quilômetro rodado.
A operação do sistema é executada por empresas privadas, através de concessão. A estas empresas compete:

Adquirir a frota de ônibus de acordo com as determinações da URBS
Contratar e remunerar pessoal de operação (motoristas, cobradores, etc);
Manutenção e limpeza dos veículos
Executar as ordens de serviços encaminhadas pela URBS;
Arrecadar a tarifa
Repassar a arrecadação à URBS .
A relação das Empresas Operadoras do Sistema de Transporte Coletivo de Curitiba pode ser consultada através do link http://www.empresasdeonibus.com.br/empresas.php

Para concluir, ainda uma informação importante: O sistema de Curitiba desenvolveu mecanismos de racionalização baseados na ideia de agilidade que podem render boas lições a Belém e a outras cidades. Exemplo disso é a tela mostrada na imagem abaixo, à disposição do condutor do veículo e que, por um simples toque, transmite instantaneamente a informação sobre situações de emergência, que podem ocorrer, à central de operações:


Também mostro uma fotografia da central de operações do BRT de Curitiba. Para mostrar como é importante a tarefa de gerenciamento do sistema:



Como é a tarifa?
A tarifa cobrada dos usuários do transporte coletivo constitui arrecadação pública, sendo recolhida pelas empresas operadoras e gerenciada pela URBS.
O Poder Executivo fixa a tarifa com base na planilha de custos do sistema, precedida de proposta da URBS.
Para quem se interessar em entender melhor, recomendo os seguintes links:

Composição da Tarifa: http://www.urbs.curitiba.pr.gov.br/P...11_01_2009.pdf
Preço dos insumos: http://www.urbs.curitiba.pr.gov.br/P...os_insumos.pdf
Metodologia utilizada para a composição da tarifa: http://www.urbs.curitiba.pr.gov.br/P..._2009_site.pdf
Evolução da Tarifa: http://www.urbs.curitiba.pr.gov.br/P...evolucaotarifa
Como é o pagamento das passagens?
Pode ser por dinheiro ou por meio de um cartão magnético, o que agiliza bastante a movimentação do sistema.

Em 2010, a URBS ativou 1.454,128 cartões transporte. 44% das passagens da RIT são pagas com o cartão. Há mais de 20 mil empresas cadastradas na URBS para a utilização do cartão transporte por seus funcionários. Deste total de empresas, cerca de 8 mil adquirem créditos de vale transporte por meio do portal da Prefeitura na Internet.

Os números do BRT de Curitiba
2.365.000 PASSAGEIROS TRANSPORTADOS DIARIAMENTE
1915 ÔNIBUS
355 LINHAS
364 ESTAÇÕES TUBO
30 TERMINAIS DE INTEGRAÇÃO
6 CORREDORES DE TRANSPORTE
INTEGRAÇÃO COM 13 MUNICÍCIOS DA REGIÃO METROPOLITANA

Fica a lição para o futuro prefeito de Belém tentar salvar o BRT do Duciomar, fazendo uma obra mais decente e mais inteligente.

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