A Perereca da Vizinha traz uma crônica primorosa da jornalista Ana Célia Pinheiro desnudando a velhaca estratégia tucana de maquiagem midiática da realidade. Vale a pena a leitura.
Ô mala! Apesar das milionárias verbas de propaganda e do último Plebiscito, aprovação de Jatene em Belém é de apenas 43%. Com um ano e meio de governo, em plena lua de mel com eleitorado, 40% dos entrevistados pelo Ibope já consideram Jatene apenas “regular”.
A barra tá pesada para o governador do Pará, Simão Jatene.
Em 2010, Jatene foi eleito “nos braços do povo” e obteve, em Belém, mais de 55% dos votos válidos.
Como nem concluiu o segundo ano de Governo, ainda deveria estar em “lua de mel” com a população.
No entanto, segundo a pesquisa Ibope divulgada pelo jornal O Liberal deste domingo (12), apenas 43% dos eleitores entrevistados na capital paraense consideram o Governo de Jatene bom ou ótimo – quer dizer, o aprovam de verdade.
15% o consideram um governador ruim ou até péssimo.
E para 40% dos entrevistados Jatene faz um governo apenas “regular”.
Traduzindo: nem fede nem cheira; nem é bom nem é mau - é apenas médio. Por isso, tanto pode estar aí, como poderia não estar.
É um resultado tísico, tendo em vista não apenas o pouco tempo de administração tucana (um ano, sete meses e treze dias), mas, também, outros fatores importantes.
O primeiro é a impressionante tentativa de lavagem cerebral a que vem sendo submetida a população paraense, através do derrame de milhões e milhões de reais em propaganda.
O segundo é o atrelamento das instituições, através da distribuição a rodo de assessorias especiais.
O terceiro é a posição que Jatene assumiu no último Plebiscito: ele foi contra a divisão do Pará, da mesma forma que a maioria esmagadora dos eleitores de Belém.
Quer dizer: nem jogando praticamente sozinho e fazendo “de um tudo” pra agradar a plateia, Jatene consegue ser aprovado, ao menos, pela metade do eleitorado da capital, o maior do estado.
E se é assim em Belém, que dizer, então, do Baixo Amazonas e do Sul e Sudeste do Pará, depois de seu posicionamento contra a divisão?
A acreditar na pesquisa do Ibope, é possível que, se as eleições para o Governo do Estado fossem hoje, Jatene tivesse de rebolar para se reeleger ou para fazer seu sucessor.
Sim, porque ninguém vota em um governo apenas “regular”.
Eu pelo menos, em mais de 30 anos de jornalismo e de política, nunca ouvi falar de alguém que tivesse votado em um governo apenas porque ele era “regular”...
Hoje, a Doxa, empresa do santareno Dornélio Silva, divulgou pesquisa de intenção de voto à Prefeitura de Belém, na qual os entrevistados também avaliaram o desempenho de Jatene.
Pois bem: na pesquisa das Doxa, a soma dos conceitos “ótimo” e “bom” obtidos por Jatene se manteve estável entre julho e agosto, alcançando pouco mais de 36,5% , em cada mês.
Já os conceitos “ruim” e “péssimo” cresceram de 15,6% para 22,8%, lipoaspirando o grupo de eleitores que consideram o governo estadual como “regular”.
O problema é que a Doxa separa o conceito “regular” em "positivo" e “negativo”.
Daí que, na pesquisa dela, Jatene teria agora em agosto 61,9% de aprovação em Belém.
Mas, ainda assim, os tucanos não podem comemorar coisa alguma: em julho, também segundo a Doxa, a aprovação de Jatene seria de 70,9%, também com base nessa segregação do regular em “positivo” e “negativo”.
Quer dizer: a aprovação de Jatene teria caído 9% em apenas um mês.
Vale salientar, ainda, que a soma de “bons” e “ótimos” de Jatene na pesquisa da Doxa é muito menor do que na pesquisa do Ibope: 36,5% na Doxa; 43% no Ibope.
Veja os números nos quadrinhos abaixo (os do Ibope foram retirados do portal G1).
Primeiro a Doxa:
Aqui, o Ibope:
Descompasso entre a propaganda e a História
São vários os fatores que podem estar por trás dessa raquítica aprovação.
O primeiro é a própria realidade, que os cidadãos enxergam todos os dias, todas as horas, dentro ou fora de casa, apesar da tintura cor de rosa da propaganda governista.
A propaganda jura que a violência caiu, mas não é isso o que as pessoas veem em cada esquina, ou até nas páginas dos jornais, obrigados a noticiar o assunto, já que “noticiário de polícia vende jornal”.
A propaganda jura que a saúde melhorou, mas os cidadãos não encontram melhoria alguma nos postos e hospitais públicos.
Além disso, há o noticiário televisivo, que fura o bloqueio da imprensa local, a desconstruir a “ilha da fantasia” governista e escancarar a miséria assustadora da maioria da população deste estado.
E há, ainda, a informação dos blogs e redes sociais, especialmente, na capital paraense, onde é maior o acesso à internet, em casa ou no trabalho.
Tudo isso demonstra o descompasso entre o avanço da História e as táticas de propaganda nazista, nas quais insistem os tucanos paraenses.
E, como definiu belamente o compositor Pablo Milanes (em tradução de Milton Nascimento ou de Chico Buarque, já não me recordo) a História é “um carro alegre/cheio de um povo contente/que atropela indiferente/todo aquele que a negue”.
Em outras palavras: o receituário nazista da propaganda pode ter funcionado na década passada e até no primeiro governo de Jatene.
Mas já não tem como se sustentar diante do avanço acelerado da transparência e da democratização das informações – dois fenômenos absolutamente irreprimíveis.
Falta dinheiro para investimentos
Outro problema é o marasmo que toma conta do governo, pela falta de dinheiro para investimentos - e até pelas próprias opções de Jatene.
O Governo tergiversa, faz publicar matérias enganosas com dinheiro público, para ludibriar o contribuinte, mas não consegue esconder o fato: vai ter de contrair pelo menos R$ 1,8 bilhão em empréstimos, apenas para manter o nível de investimentos nos mesmos patamares da última década (leia aqui: http://pererecadavizinha.blogspot.com.br/2012/08/incrivel-jatene-quer-contrair-quase-r-2.html).
No domingo, 12, por exemplo, o jornal O Liberal publicou, na capa do caderno Poder, matéria que é cuspida e escarrada um release da Agência Pará, a central de notícias do Governo do Estado.
Lá, diz-se que os investimentos do Governo chegarão a mais de R$ 5 bilhões até 2014.
Ocorre que, desse total, quase R$ 2 bilhões virão desses empréstimos referidos aí em cima.
E nos R$ 3,5 bilhões restantes o Governo misturou, “candidamente”, recursos destinados ao custeio da máquina – a matéria não quantifica esse volume de dinheiro de custeio, mas, presume-se, ele deve ser alto, já que se trata de verba de saúde.
Ora, custeio é custeio; investimento é investimento.
Uma coisa é eu comprar gaze e esparadrapo pra colocar no hospital – isso é custeio, material para o dia a dia daquele hospital.
Outra coisa é eu construir e equipar uma UPA lá em Jacareacanga – isso, sim, é investimento.
Além disso, é bem possível que nesses R$ 3,5 bilhões também estejam encafuados os R$ 800 milhões daquela enroladíssima taxa de mineração, que ninguém sabe se e quando sairá.
Resumo da ópera: o Governo pode tentar maquiar a realidade o quanto quiser com a verba da propaganda. Mas a verdade é que não há dinheiro para investimentos.
E queda dos investimentos o cidadão sente na porta de casa, na esquina da rua. Especialmente, num estado com os fluxos migratórios do Pará.
E, especialmente, no caso de um governador que assumiu o cargo em meio a tantas expectativas.
Daí que é possível que esse nível raquítico de aprovação de Jatene tenha a ver com esse sentimento – apesar de toda a propaganda – de que o Pará parou.
Menos, é claro, em termos de irregularidades assombrosas.
Pior: mesmo que consiga botar a mão nessa impressionante bufunfa de quase R$ 2 bilhões, nada garante que a aprovação de Jatene irá melhorar. Isso devido às opções do próprio Jatene.
Exemplo: ele anuncia que vai construir mais dois hospitais regionais. E, no entanto, não consegue botar pra funcionar direito nem os hospitais existentes.
O que Jatene e os tucanos paraenses não parecem entender é que os tempos mudaram.
As tecnologias (especialmente as de comunicação) avançam com uma rapidez nunca vista na história da humanidade.
Milhões de brasileiros vão melhorando de vida, com a ajuda de programas como Bolsa Família, Bolsa Trabalho, crédito produtivo.
Milhões de brasileiros vão sendo incluídos no sistema de ensino e conseguem até mesmo chegar a uma universidade.
As leis vão se transformando, para obrigar a transparência na gestão da coisa pública.
Tudo isso eleva o nível das aspirações dos cidadãos – como sabe, aliás, qualquer pessoa que estudou o básico de Administração.
E isso significa que, nestes novos tempos, já não basta apenas erguer “elefantes brancos” em véspera de eleição.
Aliás, o “elefante branco” já nem pode ser “elefante branco”, já que tem de funcionar.
Nestes novos tempos, a melhor receita para acertar o passo com os cidadãos é fazer as coisas como deve de ser: com transparência, honestidade, participação social.
Isso sim dá resultado.
Além de sair muito mais barato do que a propaganda milionária, mentirosa e abusiva.
FUUUUUIIIIIIII!!!!!!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário