Do blog Escrevinhador, do jornalista Rodrigo Viana:
“Siga o dinheiro, ele sempre conta a história”, diz Amaury, resumindo o foco de uma apuração que durou 10 anos. O repórter premiado começou a investigar os caminhos (e descaminhos) do dinheiro das privatizações da Era FHC quando ainda era repórter de “O Globo”. Pergunto se conseguiu publicar alguma coisa no jornal carioca: “ocê é doido, rapaz, eles não mexem com isso não”.
O Amaury tem um jeito de matuto. Numa profissão em que jovens jornalistas gostam de se vestir como se fossem executivos do mercado financeiro, ele prefere a simplicidade. E com esse jeito de mineiro que não está entendendo bem o que se passa em volta, consegue tudo: papéis, documentos, informações. Sobre a mesa de trabalho, o caos criativo. Parte daquela papelada vai parar no livro, na forma de anexos: são documentos que ajudam a contar a história. ”Tá bom o livro, não tá? Hem, hem?”. Quase todas as frases do Amaury terminam com esse “hem, hem!”.
Um outro colega passa em frente à mesa do Amaury, e finge que vai levar parte dos documentos: “Ocê é doido, faz isso não”. Depois, emenda uma frase meio enrolada. Parece que ele usa aquela tática do velho Miguel Arraes: metade do que o Amaury diz a gente não entende. Mas o que ele escreve é fácil de entender.
O capítulo 4 conta a história da Citco, empresa com sede nas Ilhas Virgens Britânicas. “E o que é a Citco?” eu pergunto. “A Citco é uma espécie de barco dos corsários, é por ali que o dinheiro circula”. Segundo Amaury Ribeiro Junior, a Citco é especializada em abrir empresas “offshore”. O termo vem da época dos corsários de verdade: “eles saqueavam os mares, e depois escondiam o fruto dos saques ’offshore’, ou seja, fora da costa, longe dos olhos das pessoas”, explica o repórter.
Em setembro de 2010, publiquei aqui no Escrevinhador um aperitivo sobre o tema: “Citco, esse é o mapa da mina” . Agora, recebo mais mais detalhes, que estarão no livro. Quem já usou esse esquema, Amaury? “Os doleiros do Banestado usavam, a turma da Georgina usava nas fraudes da Previdência, e a turma que faturou com as privatizações também usou”. É o que Amaury vai explicar (e provar, ele garante) no livro “OS PRIVATAS DO CARIBE”. Hoje, ele me mostrou alguns capítulos. Já estão todos prontos. Os títulos dão uma pista do que vem por aí:
- “OS TUCANOS E SUAS EMPRESAS-CAMALEÃO”
- “OS SÓCIOS OCULTOS DE SERRA”
- “MISTER BIG, O PAI DO ESQUEMA”
- “A FEITIÇARIA FINANCEIRA DE VERÔNICA”
- “DOUTOR ESCUTA, O ARAPONGA DE SERRA”.
Quais são as empresas camaleão? Quem administrava as empresas? Quais foram as feitiçarias de Verônica? E quem é o “doutor escuta”? Tudo isso o Amaury promete contar em detalhes.
Aqui, no “VioMundo” do Azenha, você lê um dos capítulos.
Vocês se lembram que, durante a campanha eleitoral de 2010, Amaury foi acusado de quebrar o sigilo da família de Serra, num esquema que serviria ao PT. Amaury nega tudo. Ele tem certeza que as acusações – publicadas com destaque na imprensa serrista – eram uma retaliação: “os tucanos sabiam que eu tinha investigado isso tudo, e que a investigação ia virar livro, tentaram me queimar”. Na reta final da eleição, um emissário de Serra chegou a procurar Amaury. Ligou até na redação da Record atrás dele. Amaury acha que os tucanos queriam propor algum tipo de acordo…
Ao fim da campanha, com Serra derrotado, muita gente chegou a duvidar da existência do livro sobre as privatizações. ”O Amaury blefou”, diziam alguns leitores. A turma do PSDB mesmo deve ter achado que ele não teria coragem de publicar os resultados da investigação de uma década. Agora, podem ter uma surpresa.
Mas não pensem que o livro ficará barato para o PT. Amaury mostra como ele virou pivô de uma luta interna nos bastidores da campanha de Dilma. Um capítulo inteiro é dedicado a essa história: “COMO O PT SABOTOU O PT”.
Amaury só não explica uma coisa: como é que consegue escrever livro sobre dinheiro no Caribe, produzir reportagens especiais pra TV em São Paulo e ainda administrar “a melhor pizzaria do Brasil”. A pizzaria fica em Campo Grande (MS).
“Mas Amaury, repórter dono de pizzaria é piada pronta”, provoco. “Ocê precisa experimentar minha pizza, é a melhor do Brasil”, ele diz, maroto. E emenda mais uma frase incompreensível sobre mussarela e calabresa.
A pizza eu não quero. Prefiro o livro.
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