BLOG DO VICENTE CIDADE

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segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Divisão do Pará levaria para Carajás royalties do ouro de Serra Pelada

Prefeito de Curionópolis apoia divisão; secretário estadual é contra. Garimpo deverá ser reaberto, de forma mecanizada, a partir de 2012.
Iara LemosDo G1, em Serra Pelada
Se aprovada no plebiscito marcado para 11 de dezembro, a divisão do Pará em três estados colocaria Serra Pelada dentro do estado de Carajás – os outros dois, se houver a divisão, seriam o próprio Pará (com uma área menor) e Tapajós.
Nessa hipótese, o pagamento dos royalties da mineração atualmente destinados ao estado do Pará iria para os cofres de um eventual novo estado de Carajás, que teria a mineração como principal atividade econômica da região. Uma parceria entre a cooperativa local de garimpeiros e uma empresa canadense deve permitir a reabertura no ano que vem do garimpo de Serra Pelada, desta vez com extração feita de forma mecanizada.
Em 17 e 18 de agosto, o G1 esteve em Serra Pelada e mostra em uma série de reportagens o projeto e a estrutura da nova mina, o cotidiano da localidade e a esperança dos que ainda não desistiram do sonho de encontrar ouro.
Serra Pelada ficha 3 (Foto: Editoria de Arte / G1)
Os recursos chegariam ao novo estado por meio da Compensação Financeira pela Exploração dos Recursos Minerais (CFEM), uma espécie de imposto calculado sobre o valor do faturamento líquido do produto mineral vendido.
O acordo firmado entre a Cooperativa dos Garimpeiros de Serra Pelada (Coomigasp) e a empresa de mineração Colossus, do Canadá, que deverá permitir a reabertura do garimpo de Serra Pelada a partir de 2012, agora de forma mecanizada, prevê a extração de cerca de 50 toneladas de minérios em dez anos.
Dos três minérios que têm extração prevista – ouro, paládio e platina –, o ouro é o mais valorizado no mercado.
A unidade internacional de medida, a onça troy, equivale a 31,10 gramas de ouro. Para cada ano de exploração da nova mina de Serra Pelada, a Colossus espera extrair até três toneladas de ouro, o equivalente a R$ 285 milhões por ano. No caso do ouro, a CFEM calculada é de 1% do valor arrecadado com a venda.
Segundo a Secretaria de Geologia, Mineração e Transformação Mineral do Ministério de Minas e Energia, desse total, 65% seriam destinados diretamente para o município de Curionópolis, onde está localizada a mina de Serra Pelada. Outros 23% seriam destinados aos cofres do novo estado de Carajás, caso o plebiscito determine a divisão do Pará. Os 12% restantes seriam pagos pela empresa para a União.
"Nossa região é muito carente de poder público devido à extensão do Pará, que é muito grande. Se houver a divisão, passaremos a ter força política e de investimentos. O dinheiro que é gerado aqui, será revertido para investimentos na própria população", afirma o prefeito de Curionópolis, Wanderson Chamon (PMDB), um dos principais defensores da campanha de independência do estado de Carajás.
Por lei, a verba recebida por meio da CFEM precisa ser revertida em investimentos em infraestrutura, qualidade ambiental, saúde e educação da comunidade.
Se for criado, o novo estado de Carajás terá 39 municípios e uma população estimada de 1,5 milhão de habitantes, que poderiam ser beneficiados com os investimentos, na análise da prefeitura.
O prefeito de Curionópolis afirma que, devido à escassez de recursos da administração municipal, a empresa Colossus acaba suprindo necessidades da comunidade de Serra Pelada em áreas como saúde, educação e infraestrutura.
"A população de Serra Pelada viveu jogada durante 30 anos, sem esperança de ter melhores condições de vida. Querendo ou não, a empresa que chegou ali está melhorando as condições de vida da população", afirmou Chamon.
Na análise do economista Célio Costa, que foi professor da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC) e é autor de um estudo sobre a viabilidade da criação do estado de Carajás, a divisão do estado melhoraria a vida das comunidades mais isoladas.
Serra Pelada, que desde o começo dos anos 80 se transformou em um ponto de peregrinação para os garimpeiros que buscavam o ouro da região, integra hoje uma região que tem uma carência de cerca de mil médicos e 1,1 mil policiais, segundo mostra o estudo do economista, feito em parceria com a prefeitura da cidade.
"O Brasil precisa entender que, se houver a divisão, aumenta a eficiência da máquina arrecadadora, e com isso diminuem as desigualdades sociais. Existe hoje uma desigualdade muito grande na região, e quem perde com isso é a população", avalia o professor.
Vila de Serra Pelada (Foto: Vianey Bentes/TV Globo)Rua principal da localidade de Serra Pelada, na região sul do Pará, onde não há asfalto em nehuma das ruas e o esgoto corre à céu aberto.  (Foto: Vianey Bentes/TV Globo)
Secretário estadual critica
Para Sérgio Leão, secretário especial de Infraestrutura e Logística para o Desenvolvimento Sustentável do estado do Pará, se o plebiscito confirmar a divisão do estado, a região de Carajás não conseguirá se estruturar tendo como base os recursos oriundos da exploração mineral, principal fonte da economia da região.
“A visão que temos é que os projetos de mineração são pouco agregadores de valor, já que os produtos não são industrializados. Os produtos são exportados de forma primária, o que acaba reduzindo os valores que são repassados para a região", afirmou.
Para o secretário, o valor dos royalties da mineração seria pequeno para auxiliar na manutenção da região. "Não acho que a estrutura mineral seja uma boa saída para a economia municipal [...] Fazer a separação não vai resolver o problema. O custo administrativo é muito pesado em relação ao PIB que os municípios têm. A separação não será boa para nenhum dos estados. Todos sairiam fracos", disse o secretário.

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