Denúncia da Veja contra Lula não passa de tática eleitoral | Blog da Cidadania
Confesso que tive preguiça de escrever sobre a última da Veja. No sábado pela manhã, assim que, sôfregos, blogs e sites da mídia tucana começaram a martelar mais uma denúncia lastreada em vento, o cansaço com essas falsas polêmicas levou este blogueiro a decidir se poupar de trabalho tão patético quanto o de desmentir o que se desmente por si só.
Não ia escrever, mas o tom que vi em algumas matérias da blogosfera me leva a fazer o que não tinha vontade. E sem nem mesmo ver necessidade. Mas como há gente bem-intencionada levando a sério não a matéria, mas a intenção por trás dela, escrevo.
Sejamos sintéticos como o assunto merece. Rememoremos a denúncia em poucas palavras.
Veja e outros veículos da mídia tucana que repercutiram sua matéria fizeram chamadas sobre o tema que induzem o leitor a crer que a revista entrevistou o réu do julgamento do mensalão Marcos Valério e que este teria acusado o ex-presidente Lula de ter sido o verdadeiro arquiteto do esquema. Ao mergulhar na matéria, porém, o leitor vai perdendo expectativas.
Veja – e o resto da mídia que a repercutiu acriticamente – usa chamada que induz a erro. Repare, leitor:
“Diante da perspectiva de terminar seus dias na cadeia, o publicitário [Marcos Valério] começa a revelar os segredos que guardava – entre eles, o fato de que o ex-presidente sabia do esquema de corrupção armado no coração do seu governo”
Só lá pelo meio da primeira parte da matéria – sim, pessoas de boa fé me obrigaram a ler aquilo – é que surge a informação que deveria não só ter aberto o texto já no primeiro parágrafo, mas que deveria constar no título na capa da revista, que estampa a denúncia e induz quem a vê a comprar o material achando que, nas páginas internas, contém uma bomba.
Veja, lá pelas tantas – e agora que o leitor desavisado que não assina o panfleto já pagou por ele em banca –, entrega que a matéria foi feita “Com base em revelações de parentes, amigos e associados” de Valério, aos quais ele teria dado tais declarações por estar sentindo-se “traído e abandonado pelo PT”.
Marcos Valério está sendo julgado pelo STF. Em pleno julgamento, ele decide sair por aí alardeando a quem quiser ouvir (parentes, amigos e associados, segundo a revista) uma das “teses” da Veja que, se fosse considerada pelo STF, agravaria suas penas: o esquema criminoso de que participou teria envolvido muito mais dinheiro e muito mais crimes.
Valério estaria zangado com um partido que não o defendeu? Por que, se o PT está tendo dificuldade para defender até a si mesmo do massacre midiático?
Valério é um homem inteligente. Isso é visível. Montou esquemas de corrupção envolvendo importantes partidos do governo e da oposição, sobretudo o PSDB (primeiro) e o PT (depois). Ele sabe muito bem que nunca houve nada que o PT pudesse fazer por si. E se este partido não fez nada por ele muito menos fez o PSDB, com o qual também se envolveu até o pescoço.
Veja não dá um mísero nome dentre essa suposta legião de “amigos, parentes e associados” que estariam gritando aos quatro ventos a acusação contra Lula. Todo o círculo de relações sociais de Valério contou a história à revista e ninguém quis aparecer…
Pior é o próprio Valério. Ele conta a todo mundo de seu relacionamento a bomba que guardaria contra Lula, mas não conta à Veja. Se contou a tantas pessoas, certamente queria dar publicidade ao caso. Ainda assim, em vez de procurar um meio de comunicação preferiu o boca a boca de suas relações pessoais (?!).
Pode-se inferir da matéria da Veja, aliás, que Valério teve um surto de bom-mocismo: arrisca-se a aumentar suas penas no julgamento que tramita e contraria advogados que certamente o aconselharam a se recolher durante o processo só para desmascarar o “grande vilão” Lula.
O “jornalismo” da Veja se mostra inexplicável. A revista ouviu todo mundo, mas não ouviu Valério. Ok, ele conta sua história a qualquer um menos a ela. Mas certamente o advogado do réu teria algo a dizer e não se recusaria a dar declarações porque a denúncia prejudica seu cliente. Por que não foi ouvido?
O resto da mídia comprou acriticamente essa história maluca. No domingo, a Folha de São Paulo repercute a acusação da Veja a Lula em destaque logo na abertura do seu caderno Poder e acusa o advogado de Valério, que desmentiu a revista, de ter dado declarações contraditórias.
Eis o que diz a Folha:
“À Folha o advogado de Valério, Marcelo Leonardo, disse num primeiro momento que não confirmava nem desmentia as declarações do cliente. Mais tarde, afirmou que Valério negou o teor da reportagem. ‘Ele não deu entrevista e negou toda a matéria, inclusive as declarações’.”
Ai que preguiça! Mesmo se for verdadeira a primeira declaração, parece provável que tenha sido dada sem que o advogado de Valério tivesse se inteirado adequadamente dos fatos e que a segunda declaração tenha sido dada após fazê-lo.
Cadê o jornalismo? Quando foi dada a primeira declaração e quando foi dada a segunda?
Seja como for, a própria Folha mostra que não existe qualquer conseqüência possível que redunde da “reportagem” de Veja. Eis o “fecho” da matéria daquele jornal publicada neste domingo, no dia seguinte à denúncia da revista:
“Marco Aurélio Mello, do STF, disse que as supostas declarações [de Valério] não influenciam no julgamento, mesma posição manifestada reservadamente por outros ministros. ‘A ação penal 470 [mensalão] já está finalizada e, quanto à prova, fechada’, disse o ministro.”
É uma bobagem, pois, dizer que Lula corre o menor risco de ser processado por conta de uma acusação sem autor sobre um tema exaustivamente examinado pelos órgãos de controle do governo, pela Polícia Federal, pelo Ministério Público e pelo STF sem que tais investigações tenham sequer resvalado no ex-presidente.
As pessoas de boa-fé que viram um plano de condenar Lula estão se esquecendo do momento político que vive o Brasil. Estamos em pleno processo eleitoral e ele é o principal cabo eleitoral do país. Sua influência popular ajudará a eleger centenas, se não milhares, de prefeitos e vereadores. A matéria da Veja busca apenas reduzir essa influência. Nada mais.
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