Bacamarte no tucupi: Mário Couto pede que STF investigue patrimônio de parlamentares. Mas esquece mansão em Cuiarana e dinheiro derramado no clube Santa Cruz. Bens do senador triplicaram entre 2001 e 2005, época em que presidiu a Assembléia Legislativa do Pará. Em apenas dois processos a que responde na justiça estadual, rombo na Alepa alcançaria R$ 16 milhões.
Simão Jatene e Mário Couto: dupla dinâmica arrepia no Pará.
Parece coisa do Alienista, que internou meio mundo na Casa Verde de Itaguaí e, ao final, descobriu que quem precisava de internação era ele.
Na última terça-feira (30), o senador Mário Couto Filho, do PSDB, provocou frisson ao defender, em discurso no Senado, que o Supremo Tribunal Federal (STF) analise a evolução patrimonial de deputados e senadores. Segundo Couto, as Vossas Excelências são ladrões.
(Leia aqui: http://oglobo.globo.com/pais/senador-tucano-chama-colegas-de-ladroes-provoca-revolta-6586433 E aqui:http://oglobo.globo.com/pais/depois-de-chamar-colegas-de-ladroes-mario-couto-cobrado-dar-nomes-6599404).
A investigação acerca da evolução patrimonial dos parlamentares é, de fato, uma excelente sugestão. Especialmente, se começar pelo próprio Mário Couto.
E o ponto de partida pode ser a Vila de Cuiarana, a 8 quilômetros da sede do município de Salinópolis, Nordeste do Pará.
Lá, o senador costuma passar os finais de semana em um casarão cujo terreno ocupa uma quadra inteira da avenida São Pedro. Só a estrutura da caixa d’água, em concreto, tem o equivalente a uns quatro andares. Haveria, também, um campo de futebol.
Em Cuiarana, é voz corrente que o casarão pertence a Mário Couto.
Mas pelo menos até abril deste ano, segundo informações da Prefeitura de Salinópolis, o IPTU da propriedade estava em nome de Georgete Caroline Gomes Couto.
(A mãe do senador se chama Georgete Sales Couto; a nova mulher dele tinha o nome de solteira de Solange Gomes da Silva. É possível, portanto, que Georgete Caroline seja filha de Mário Couto.)
Além do tamanho, também chama atenção o valor venal do imóvel: cerca de R$ 98 mil, ou menos do que uma casa de sala e quarto (terreno de 12mX22m), vendida na internet, no início do mês passado, na mesmíssima Cuiarana, por R$ 125 mil.
A Perereca da Vizinha fez várias imagens do casarão.
E também encontrou no YouTube um vídeo que mostra uma mansão em Cuiarana filmada do alto, a partir de uma torre, por um internauta.
E embora não se possa afirmar que se trata da mesma propriedade, uma coisa é certa: as duas mansões são muito, mas muito parecidas - desde a estrutura arquitetônica, passando pela caixa d’água e pelos banquinhos amarelos na calçada em frente.
Veja as imagens feitas pela Perereca:
Aqui, a imagem do Youtube:
E aqui o anúncio de uma casa de quarto e sala em Cuiarana, vendida a R$ 125 mil:
“Dono” até de clube de futebol
Outro fato que chama atenção é a turbinagem do Santa Cruz de Cuiarana, o time de futebol daquela vila, que teria como presidente – ou “dono”, como classificam internautas – o próprio Mário Couto.
O Santa Cruz de Cuiarana, dantes um ilustre desconhecido, apesar de existir há duas décadas, agora bomba na imprensa, depois que foi apadrinhado pelo senador, há dois anos.
A nova estrutura do clube impressiona: estádio que deverá comportar até 16 mil pessoas, salão de eventos para três mil, churrascaria, piscinas, sauna, academia de musculação, banheiros, vestiário, estacionamento, em uma área de 15 mil metros quadrados.
Segundo o jornalista José Maria Trindade, do blog Tudão e Tudinho, a área em que o senador construiu o complexo esportivo do Santa Cruz pertencia à comunidade – era um antigo campo de peladas.
Em março deste ano, no entanto, até a polícia teria sido chamada, para retirar moradores que resolveram tomar banho na piscina do clube, sem autorização.
Na época, o prefeito de Salinas, Wagner Couri (PR), teria ameaçado recorrer ao Judiciário, para reaver a área da qual Mário Couto teria virtualmente se apossado. Leia aqui:http://tudaoetudinho.com/noticias/posseiro/
É uma história semelhante a que foi contada à Perereca por um morador da localidade de Itapera, às proximidades de Cuiarana.
“O Mário veio para gramar e murar o nosso campo. Mas aí o pessoal não deixou ele fazer, porque achou que era para ficar com o campo, como ficou com o do Santa Cruz” – disse Carlos Augusto Correa Farias, do Itaperona Clube.
Segundo ele, a oferta do senador ao Itaperona ocorreu em janeiro deste ano.
E sobre o vizinho Santa Cruz, disse Carlos Augusto: “Deram o campo de mão beijada pra ele (Mário Couto). Ele chegou dizendo que queria ajudar o clube e aí deram a documentação pra ele. E quando viram, ele não deixou mais ninguém jogar lá”.
Veja as fotos do complexo esportivo construído pelo senador, inclusive a notícia de uma visita ao local por representantes da Federação Paraense de Futebol (FPF):
Em quatro anos, bens triplicaram
Ainda no blog Tudão e Tudinho, consta uma entrevista em que Mário Couto diz que exportou muito gado para o Líbano, antes de resolver se dedicar ao futebol em Cuiarana. (http://tudaoetudinho.com/destaques/boi-nao-fala/).
E é aqui que a porca torce e retorce o rabo.
Em 2002, ao se candidatar a deputado estadual, Couto declarou à Justiça Eleitoral que o seu patrimônio somava R$ 138.800,25 (ou o equivalente, hoje, a R$ 271.726,75, em valores atualizados pelo IPCA-E).
Seus bens se resumiam ao apartamento 501 da rua Arcipreste Manoel Teodoro, 390, no centro de Belém, avaliado em R$ 62.457,53; a uma casa em Salvaterra, no valor de R$ 34.698,62; e a uma casa no lote 32, quadra 8, do loteamento Parque Verde, que valeria R$ 41.636,40; além de R$ 7,70 em quotas de capital da empresa Só Ferro, que estava sem movimentação desde o ano anterior (veja aqui: https://docs.google.com/file/d/0B8xdLmqNOJ12MTVrcjZEcHY5ZG8/edit?pli=1).
Já em 2006, ao se candidatar ao Senado, depois de presidir por três anos a Assembleia Legislativa do Pará (Alepa), os bens declarados por Mário Couto haviam triplicado, ou até quadruplicado, de valor, somando R$ 598.852,49 – o equivalente hoje a R$ 835.580,14.
O bem mais caro adquirido naquele período foi uma fazenda no município de São Francisco do Pará, cuja parcela pertencente a Mário Couto estava avaliada em R$ 400 mil.
Mas na declaração de bens dele, relativa ao ano-base de 2005, não há sinal de cabeças de gado. Veja aqui:
É claro que o senador pode ter comprado o rebanho entre 2005 e 2009, quando teria vendido a fazenda.
Mesmo assim, permanece a dúvida: em quanto mais terá crescido o patrimônio do senador, que, nesse ínterim, até se separou e casou novamente?
E de onde veio o dinheiro para a mansão em Cuiarana e para o complexo esportivo do Santa Cruz?
Em apenas dois processos, rombo de R$ 16 milhões
Junto com mais de duas dezenas de servidores públicos, Mário Couto responde a dois processos na Justiça Estadual, sob a acusação de participar das fraudes na Alepa, que teriam desviado mais de R$ 100 milhões dos cofres públicos, entre 2003 e 2010.
Nesses dois dos processos que envolvem o senador e a filha dele, a deputada estadual Cilene Couto, o dano ao erário teria chegado a quase R$ 16 milhões.
Leia aqui: http://pererecadavizinha.blogspot.com.br/2012/01/escandalo-da-alepa-mp-denuncia-senador.html
Aqui: http://www1.folha.uol.com.br/poder/1042107-senador-tucano-e-denunciado-pela-2-vez-em-menos-de-uma-semana.shtml
E aqui: http://www.mp.pa.gov.br/index.php?action=Menu.interna&id=764&class=N
E aqui, a íntegra da segunda denúncia do MP: http://www.mp.pa.gov.br/upload/noticia/acp-licitacao-ate-2007.pdf
Essa segunda denúncia envolve uma das estrelas do escândalo da Alepa: o chamado “Tapiocouto” – o fornecimento de toda sorte de serviços à Alepa, inclusive material elétrico e obra de engenharia, por uma fábrica de farinha de tapioca.
A própria denominação do escândalo, aliás, é uma alusão ao nome do senador, que presidia a Assembleia à época do Tapiocouto.
Mas, ao que parece, a Justiça está tendo dificuldades em localizar o ilustre senador da República, já que, no último dia 23 de outubro, o juiz mandou citá-lo por edital.
Veja a movimentação das duas ações na Justiça do Pará.
Aqui: https://docs.google.com/open?id=0B8xdLmqNOJ12R05NUGtRS1daX1k
E aqui: https://docs.google.com/open?id=0B8xdLmqNOJ12VUpCRHNOcDRub2c
Ação Penal por corrupção
Esses, porém, não são os primeiros processos cabeludos a que Mário Couto responde na Justiça do Pará.
Ele, que foi até porta-voz de uma inusitada associação dos bicheiros paraenses (Leia aqui:http://pererecadavizinha.blogspot.com.br/2012/05/fotos-historicas-do-senador-mario-couto.html E aqui:http://pererecadavizinha.blogspot.com.br/2012/09/de-bicheiro-connaisseur-mario-couto.html) também já respondeu a uma ação penal por corrupção, junto com outros “capos” do jogo do bicho no Pará.
O processo, porém, prescreveu depois de rolar por duas décadas no Judiciário.
E a movimentação é estranhíssima: no documento que a Perereca obteve no site do Tribunal de Justiça do Estado, o processo, que seria de 1992, foi distribuído em julho de 2012 e tem como relator o desembargador João Alberto Castello Branco de Paiva, que morreu em março do ano passado.
Veja nos quadrinhos abaixo:
E aqui: https://docs.google.com/open?id=0B8xdLmqNOJ12U3p4cHBlMm81RnM
A Perereca vai voltar a esse palpitante tema.
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