Às vésperas da decisão da Champions League, o Blog Teoria dos Jogos publicou um texto falando sobre os elementos que compõem o chamado “Match Day”. O espetáculo grandioso e confortável que ocorreu em Wembley apenas veio a confirmar o que foi dito. Agora, na “parte 02”, veremos o outro lado da moeda: a completa ineficácia brasileira na organização de eventos de grande porte. O relato terá como base a experiência vivida por este blogueiro no dia de ontem, quando da partida entre Santos e Flamengo, no Estádio Nacional de Brasília.
Permitam-me a primeira pessoa, algo que tenho por hábito evitar: Após dispender R$ 160 pelo ingresso mais barato (arquibancada superior, setor 401), dei de ombros aos rumores de que não haveria controle quanto às meias-entradas. Viajei a Brasília (onde já residi) tendo os custos normais de um “turista esportivo”: passagem aérea, hospedagem e ingresso. Após transpor as intermináveis filas na entrada (mencionadas adiante), descubro que meu assento simplesmente não existia. Vide comparação entre ingressos, um correto e o meu, “fantasma”:
Iniciou-se uma verdadeira via crúcis de orientadores e policiais sem a mais remota ideia de como proceder. Após mais de uma hora sendo encaminhado de um lugar para outro, finalmente procederam a troca por um assento “existente” – a esta altura eu já havia perdido vinte minutos de partida. Mediante o tratamento escandaloso dispensado pela Ingresso Rápido (sic) à maioria dos que adquiriram ingressos pela internet, optei por registrar ocorrência na delegacia de polícia mais próxima. Primeiro passo no sentido de uma ação judicial contra a empresa.
Após este desagradável relato, inicio descrições dos muitos erros e alguns acertos verificados no teste de fogo do segundo maior estádio da Copa. Sendo uma experiência particular, seu escopo se torna limitado, mas em linha com diversas matérias publicadas pela mídia esportiva:
APROVADO
Visual interno – Em linha com o que há de mais bonito no mundo. Colossal, proporciona excelente visual de qualquer parte. Tendo “apenas” 70 mil lugares, fica difícil imaginar como alguns estádios (como Wembley ou o Camp Nou) chegam a comportar quase 30 mil pessoas a mais.
Conforto –No tocante aos assentos, espaçosos e agradáveis. Certa flexibilidade que pode ser confundida com fragilidade. Em comparação com a experiência da Eurocopa, há muito mais espaço por torcedor – o que talvez explique a menor capacidade citada no tópico anterior.
Evacuação – Os torcedores saíam das arquibancadas e acessavam as áreas internas do Mané Garrincha sem qualquer tumulto. Muito diferente do Maracanã antigo, por exemplo – quando partidas com mais de 50 mil pessoas geravam uma verdadeira “procissão” rumo às rampas de saída.
Localização – A pouco mais de 1 km de um dos setores hoteleiros da cidade, o Estádio Nacional de Brasília certamente será aquele cujo deslocamento se dará de maneira mais tranquila para os turistas.
Placares eletrônicos – De alta definição e dupla face – talvez por isto apenas dois e não quatro, como em outros lugares. Mas a partida não foi transmitida ao vivo (sem replays), como acontece na Europa.
Torcida do Flamengo – Apesar do comportamento mais próximo da “plateia de teatro”, os 63 mil torcedores presentes ao Mané Garrincha eram quase todos flamenguistas. Dizimando o lugar-comum de “torcida de baixa renda”, proporcionaram renda de R$ 6.948.710,00 – a maior de todos os tempos.
REPROVADO
Visual externo – Embora a panorâmica aparente beleza (com iluminação noturna muito bonita) a verdade é que se revela a ultrapassada obsessão brasiliense pelo concreto em estado bruto. O visual das colunas de sustentação, manchado, não condiz com arenas da própria Copa de 2014, como o Castelão ou a Arena Recife.
Filas para entrada – Literalmente quilométricas, se dissiparam quando os organizadores optaram por deixar de conferir a regularidade dos ingressos e, o que é pior, efetuarem a revista. Situação absolutamente inaceitável em se tratando de um evento internacional visado como uma Copa do Mundo
Falta de informação – Placas de sinalização no entorno inexistentes, assim como orientadores apenas nas regiões internas. Confrontados com a situação do “assento inexistente” (dos primeiros parágrafos), poucos sabiam o que fazer.
Gramado – Mediante promessas pouco críveis de que estará perfeito em semanas, soltava lascas e levantava areia. E ainda terá que ser replantado para a Copa do Mundo.
Alto falantes – Talvez querendo demonstrar toda a potência dos equipamentos, as músicas veiculadas no intervalo se deram em volume insuportável. Faltou bom senso.
Iluminação do entorno – Torcedores caminharam em trechos de completa escuridão ao longo do Eixo Monumental, sentido setor hoteleiro. Tanto mais perigoso quanto menor o comparecimento de público no estádio.
Bares – Muitos fechados, outros com poucos funcionários. O resultado foram filas gigantescas. Quem optou por bebidas no intervalo voltou para a arquibancada muito depois de a bola rolar. Vendedores comercializavam biscoitos no chão, amontoados sobre caixas de papelão improvisadas. Vendedores ambulantes, raríssimos, vendiam apenas pipoca.
Banheiros – Um tanto estreitos e mal acabados, muitos sem papel ou sabonete. Uma pilha de lixo sobre as pias e sabão em sacos plásticos pela falta de recipientes apropriados.
Telecomunicações – Como de hábito, enorme dificuldade no uso das redes de telefonia celular e internet 3G.
Organização – Desde as vendas de ingressos (quando torcedores penaram por até cinco horas na fila) a Ingresso Rápido já demonstrava o nível da falta de respeito em pleno espetáculo esportivo mais caro da história. O jogo de empurra relacionado ao mando de campo (vendido pelo Santos a uma desconhecida empresa privada) demonstrou que a responsabilização não seria tarefa fácil.
Alguns elementos que não chegaram a ser analisados (como transporte público) tem potencial para engrossar a lista dos pontos negativos associados à partida. Neste sentido, é lamentável que cartolas do Comitê Organizador e Secretários do GDF declarem que “o evento foi um sucesso”. Erros claramente superaram acertos, e o próximo evento já valerá pela Copa das Confederações. Sendo competente em diversas áreas, a verdade é que o brasileiro não aprendeu (ou não quis aprender) a equalizar o bem estar dos consumidores com as receitas dos organizadores. Esta troca justa – cerne do conceito de “Match Day” – torna vergonhoso que se pague tanto por tão pouco.
Um grande abraço e saudações!
E-mail da coluna: teoriadosjogos@globo.com
Visual externo – Embora a panorâmica aparente beleza (com iluminação noturna muito bonita) a verdade é que se revela a ultrapassada obsessão brasiliense pelo concreto em estado bruto. O visual das colunas de sustentação, manchado, não condiz com arenas da própria Copa de 2014, como o Castelão ou a Arena Recife.
Filas para entrada – Literalmente quilométricas, se dissiparam quando os organizadores optaram por deixar de conferir a regularidade dos ingressos e, o que é pior, efetuarem a revista. Situação absolutamente inaceitável em se tratando de um evento internacional visado como uma Copa do Mundo
Falta de informação – Placas de sinalização no entorno inexistentes, assim como orientadores apenas nas regiões internas. Confrontados com a situação do “assento inexistente” (dos primeiros parágrafos), poucos sabiam o que fazer.
Gramado – Mediante promessas pouco críveis de que estará perfeito em semanas, soltava lascas e levantava areia. E ainda terá que ser replantado para a Copa do Mundo.
Alto falantes – Talvez querendo demonstrar toda a potência dos equipamentos, as músicas veiculadas no intervalo se deram em volume insuportável. Faltou bom senso.
Iluminação do entorno – Torcedores caminharam em trechos de completa escuridão ao longo do Eixo Monumental, sentido setor hoteleiro. Tanto mais perigoso quanto menor o comparecimento de público no estádio.
Bares – Muitos fechados, outros com poucos funcionários. O resultado foram filas gigantescas. Quem optou por bebidas no intervalo voltou para a arquibancada muito depois de a bola rolar. Vendedores comercializavam biscoitos no chão, amontoados sobre caixas de papelão improvisadas. Vendedores ambulantes, raríssimos, vendiam apenas pipoca.
Banheiros – Um tanto estreitos e mal acabados, muitos sem papel ou sabonete. Uma pilha de lixo sobre as pias e sabão em sacos plásticos pela falta de recipientes apropriados.
Telecomunicações – Como de hábito, enorme dificuldade no uso das redes de telefonia celular e internet 3G.
Organização – Desde as vendas de ingressos (quando torcedores penaram por até cinco horas na fila) a Ingresso Rápido já demonstrava o nível da falta de respeito em pleno espetáculo esportivo mais caro da história. O jogo de empurra relacionado ao mando de campo (vendido pelo Santos a uma desconhecida empresa privada) demonstrou que a responsabilização não seria tarefa fácil.
Alguns elementos que não chegaram a ser analisados (como transporte público) tem potencial para engrossar a lista dos pontos negativos associados à partida. Neste sentido, é lamentável que cartolas do Comitê Organizador e Secretários do GDF declarem que “o evento foi um sucesso”. Erros claramente superaram acertos, e o próximo evento já valerá pela Copa das Confederações. Sendo competente em diversas áreas, a verdade é que o brasileiro não aprendeu (ou não quis aprender) a equalizar o bem estar dos consumidores com as receitas dos organizadores. Esta troca justa – cerne do conceito de “Match Day” – torna vergonhoso que se pague tanto por tão pouco.
Um grande abraço e saudações!
E-mail da coluna: teoriadosjogos@globo.com
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