No sábado pela manhã tava lendo o O Globo quando bati os olhos nesse artigo do Pedro Trengrouse, advogado especialista em direito desportivo, tricolor, mas gente boa, que coordena os projetos da Fundação Getúlio Vargas pra questões ligadas à Copa de 2014. Fiquei boladaço e acho que você também vai ficar. Lê o artigo aí e depois a gente conversa.
Entre o Remédio e o Veneno*
* Publicado originalmente em O Globo, 18 de maio de 2013
A quase um ano da Copa do Mundo, já se pode perceber alguns de seus impactos no futebol brasileiro.
Embora a Fifa ainda tenha incertezas quanto às condições de São Paulo para sediar alguns jogos, o certo mesmo é que cada um dos clubes de futebol de lá sai da Copa com seu próprio estádio: o Corinthians ganhou o Itaquerão, o Palmeiras aproveitou o aquecimento do mercado, e conseguiu viabilizar a construção de sua Arena, e o São Paulo reformou o Morumbi, conseguindo incluir na Matriz de Responsabilidade da Copa intervenções de mobilidade urbana para melhorar seu acesso.
Enquanto isso, com a interdição do Engenhão e a privatização do Maracanã, os clubes do Rio de Janeiro saem da Copa reféns de interesses empresariais e políticos que podem sacrificar o desenvolvimento pleno do futebol do estado pelos próximos 30 anos.
A importância de ter seu próprio estádio fica evidente não só nos resultados dentro de campo. A Inglaterra é o país que tem o maior número de clubes com estádios próprios e, não por acaso, o conjunto de suas receitas tem sido sempre maior que os demais, 40% acima dos alemães e 63% a mais que os espanhóis. Segundo estudos feitos por KPMG e Deloitte, o estádio próprio dos 20 principais clubes europeus responde em média por 25% das suas receitas.
O Maracanã é templo do futebol, onde tudo é de todos, nada é de ninguém. Os clubes nunca puderam explorar receitas como camarotes, estacionamento, lojas, alimentos e bebidas no Maracanã, e agora, com a privatização, poderão menos ainda.
Além disso, o gigantismo do Maracanã não é adequado à maioria das partidas dos clubes cariocas. Um estádio menor teria aproveitamento econômico muito maior e seria muito mais apropriado para a grande maioria das partidas. É melhor ter gente do lado de fora querendo comprar um lugar do que lugares vazios não vendidos dentro do estádio. A capacidade média das arenas dos 20 principais clubes europeus é de 60 mil lugares.
É possível encontrar soluções para aproveitar ao máximo o potencial do Maracanã, sem impedir que os clubes tenham seus próprios estádios, e o melhor exemplo disso é o caso de Wembley, que é a casa da seleção inglesa e abriga somente grandes eventos, sem sacrificar os clubes locais: Arsenal e Chelsea, em Londres, faturam com seus estádios próprios 115 milhões e 82 milhões de euros por ano, 42% e 32% da sua receita total, respectivamente.
O movimento por um futebol melhor, lançado em 2012 por grandes empresas lideradas pela Ambev, para estruturar o maior programa de relacionamento entre clubes e torcidas do Brasil, mostra bem o diferencial daqueles que têm estádio próprio: Inter e Grêmio, que saem da Copa com estádios novos, respondem por mais de 30% dos participantes, 150 mil dos 430 mil torcedores contabilizados pelos 20 principais clubes do país.
Ao invés de se concentrar na privatização do Maracanã, os clubes deveriam se esforçar para viabilizar suas próprias iniciativas: o Flamengo, a revitalização da Gávea; o Fluminense, seu estádio na zona portuária; o Vasco, transformando São Januário numa arena moderna; e o Botafogo, otimizando o Engenhão, cobrando as obras prometidas desde os Jogos Pan-Americanos.
A diferença entre remédio e veneno é a dose. O Maracanã, cumprindo sua vocação para sediar grandes eventos, é um ativo para o Rio de Janeiro, mas concentrando toda atividade do futebol carioca é um problema gravíssimo para a economia dos clubes.
O legado da Copa do Mundo para os clubes do Rio de Janeiro não pode ser a dependência total do Maracanã.
*Pedro Trengrouse
Ao fim da leitura do esclarecedor artigo o efeito a-ha foi imediato. E pude chegar a três conclusões lógicas e aparentemente irrefutáveis:
1. A Copa do Mundo 2014 deixou os clubes de São Paulo com 3 estádios novos e os clubes do Rio de Janeiro sem estádio nenhum.
2. As políticas para o esporte do governo do estado e da prefeitura da cidade do Rio de Janeiro não foram capazes de incentivar o crescimento do futebol carioca. Não conseguiram sequer defendê-lo.
3. Que se dane o Maracanã. O Flamengo precisa urgentemente construir o seu estádio.
Mengão Sempre
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