Em setembro do ano passado, durante o processo eleitoral de escolha de prefeitos e quando o julgamento do mensalão dava seus primeiros passos, a revista Veja publicou matéria de capa em que reportou denúncia daquele que é considerado o “operador do mensalão”, o empresário Marcos Valério de Souza, contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A partir daquele momento, um previsível script foi sendo encenado. A Procuradoria Geral da República, cuja atuação política no âmbito do inquérito do mensalão vem sendo apontada por muitos, enviou as denúncias de Valério contra Lula para investigação em primeira instância do MPF, o que acabou gerando abertura de inquérito na Polícia Federal.
Na semana passada, o advogado do “delator do mensalão”, Roberto Jefferson, ao propor embargo declaratório ao STF em benefício de seu cliente, pediu que Lula seja arrolado em um inquérito específico sobre sua participação no esquema de “compra de votos” que a maioria dos ministros daquela Corte diz ter ocorrido no início do primeiro governo do PT.
Há cerca de oito meses, portanto, que o ex-presidente Lula vem sendo associado, na mídia, ao escândalo do mensalão. Não passa uma semana sem que jornais, revistas, portais de internet, telejornais e programas de rádio citem o suposto envolvimento do ex-presidente com o esquema.
Apesar de nem a Procuradoria Geral da República, nem o STF terem visto razões para indiciar Lula na Ação Penal 470, que terminou com a condenação de nomes importantes do PT, amplos setores do partido vêm denunciando recente processo que busca envolver o ex-presidente naquele escândalo como estratégia de seus adversários para diminuir sua força eleitoral no ano que vem.
Em todos esses meses de bombardeio sobre Lula, porém, até hoje não surgiu uma só pesquisa de opinião que aponte o sucesso do que seria uma estratégia para desmoralizá-lo.
A última pesquisa sobre a popularidade do ex-presidente de que se tem notícia foi feita pelo Datafolha em dezembro do ano passado e apontou que se houvesse eleição naquele momento ele seria eleito com 56% dos votos e Dilma se reelegeria com 57%. Ou seja: não havia, naquele momento, qualquer perda de popularidade de Lula.
De lá para cá, intensificou-se sobremaneira o noticiário sobre investigações envolvendo-o. Quase toda semana o Jornal Nacional dá alguma notícia sobre as investigações, mesmo quando não é notícia, como na oitiva do ex-assessor de Lula Freud Godoy pela PF na última quarta-feira (8).
Os mais atentos por certo devem ter percebido que, se nesses cinco meses de 2013 tivesse ocorrido alguma alteração para baixo na popularidade de Lula, o noticiário formatado para difamá-lo por certo teria feito alarde sobre o fato. Todavia, desde o ano passado não se tem mais informações sobre a popularidade dele.
Ontem, porém, este blog recebeu mensagem de um leitor que diz ser professor de escola estadual de São Paulo e que afirma que na semana passada foi entrevistado pelo instituto Datafolha. A pesquisa, segundo relatou, versava sobre a imagem do ex-presidente.
Segundo essa pessoa, o questionário do Datafolha perguntou se o entrevistado está a par das investigações sobre Lula, se acredita que possa haver algum envolvimento dele no mensalão, se um eventual indiciamento do ex-presidente irá interferir na opinião do entrevistado e, por fim, faz uma simulação de intenção de voto em que Lula aparece disputando a Presidência com Aécio Neves, Marina Silva, Joaquim Barbosa e Eduardo Campos.
Pedi ao leitor que se identificasse e desse uma entrevista, mas ele não quer. Disse que nunca comentou no blog porque seu nome, devido à sua atividade profissional, não pode aparecer em questões políticas.
Seja como for, a lógica nos obriga a ver verossimilhança no relato em questão. Afinal, alguém acredita que paralelamente a essa intensa campanha de desmoralização da mídia contra Lula ela não estaria mensurando os efeitos do que está fazendo e que se ele tivesse sofrido alguma queda de popularidade isso não estaria sendo alardeado incessantemente?
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