"Reforma Agrária é o caminho para preservar a Amazônia"
Durante mesa redonda organizada no Riocentro pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, presidente do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), Celso Lacerda, rebate teses do agronegócio e sustenta que a forma de salvar a Amazônia é através da Reforma Agrária e do estímulo estatal à agricultura familiar. “O nosso grande desafio é não tratar a reforma agrária como uma politica estanque, mas sim inserida numa maior amplitude, e compreender sua importância e impacto na Amazônia”.
Darío Pignotti
Rio de Janeiro - A ofensiva do agronegócio em defesa do Código Florestal (ou “deflorestal”, talvez seja mais apropriado dizer) foi a mensagem de boas vindas com que o latifúndio, através de 600 emendas ao projeto da presidenta Dilma, recebeu a Rio+20. Foi um sinal. Ou, para dizer com todas as letras, uma ameaça. Dessa forma, o agronegócio avisou o mundo, que desde quarta-feira tem seus olhos postos no Brasil, especialmente em suas políticas públicas para a Amazônia, que “negócios são negócios” e que estão dispostos a continuar depredando a maior floresta do planeta.
O presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Celso Lacerda, rebate a tese dos fazendeiros verde-amarelos e argumenta que a forma de salvar a Amazônia é através da Reforma Agrária e do estímulo estatal à agricultura familiar.
“A agricultura em grande escala cada vez precisa de mais terra para plantar e, consequentemente, está usando cada vez mais insumos. Em função disso, é uma agricultura poluente. Esse é um modelo de agricultura que foi fundamental para a revolução verde, décadas atrás. No nosso caso, estamos numa política de reforma agrária que é contrária a esse modelo e à política de uma economia de escala que prioriza o uso de insumos e que leva à ampliação da superfície da terra que é explorada”, disse Carlos Lacerda, presidente do Incra, em conversa com a Carta Maior.
“Isso tudo leva à concentração, leva à poluição do meio ambiente. Nós estamos na contramão disso. Defendemos a agricultura familiar porque os pequenos agricultores familiares assentados na Reforma Agrária não agridem a Amazônia”, acrescenta.
Lacerda participou de uma mesa redonda organizada nesta quinta-feira (14) no Riocentro, paralela à Cúpula Rio+20, organizada pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM).
"O nosso grande desafio é não tratar a reforma agrária como uma politica estanque, mas sim inserida numa maior amplitude, e compreender sua importância e impacto na Amazônia”, afirma Lacerda.
O presidente do Incra falou para um público composto, em bom número, por ambientalistas e jornalistas estrangeiros, interessados em conhecer a posição brasileira sobre o financiamento oferecido às comunidades que não agridem o ecossistema amazônico. Indagado sobre se o financiamento estrangeiro pode ameaçar a autonomia do Estado brasileiro, ele respondeu:
“Acredito que não, porque o governo com o programa Bolsa Verde já é um modelo de remuneração pela manutenção (da floresta) para populações extremamente pobres. No campo esses pequenos agricultores familiares que ainda tem floresta em pé recebem financiamento do Estado brasileiro para mantê-la assim”.
Lacerda e os representantes do IPAM concordaram que os assentamentos devem ser ambientalmente sustentáveis e economicamente viáveis para os pequenos agricultores. Um representante do IPAM assinalou que, anos atrás, o Incra era “a ovelha negra do desmatamento” porque não tomava cuidado com o meio ambiente mas “felizmente essa postura mudou nos últimos anos, agora há um novo modelo de reforma agrária, um novo modelo de assentamentos, que parte da premissa de viver, produzir e conservar”. “Hoje a reforma agrária segue novos conceitos e isso permite trabalhar conjuntamente com o Incra. O importante é juntar a modernização da agricultura familiar, o aumento dos assentamentos e a defesa da Amazônia”.
A mesa redonda organizada pelo IPAM ocorreu na manhã desta quinta, enquanto em outro pavilhão do Riocentro diplomatas e funcionários da ONU continuavam suas infrutíferas negociações para chegar a um documento consensual a ser apresentado na próxima semana aos presidentes que encabeçarão a última parte da cúpula.
Até o momento, a informação oficial é que os governantes das duas maiores potências capitalistas ocidentais não participarão da cúpula: Barack Obama e Ângela Merkel, duas ausências de peso por sua importância política e diplomática, o que colocará o Norte em desvantagem em relação ao Sul, que contará com a maioria de seus governantes. O presidente russo Vladimir Putin também não deve participar do encontro no Rio de Janeiro.
Indagado sobre se acha que o documento final da Rio+20 pode ser um fracasso, Lacerda disse:
“Há avanços, mas todo mundo sabe que o documento final é uma coisa imprevisível. Não tenho como dizer o que vai acontecer. Creio que a situação de crise global influenciará a conclusão da Rio+20. Vai depender a vontade política dos chefes de Estado. É positivo que os países emergentes atuem de forma mais coordenada e constituam uma eventual frente unida na Cúpula”.
Tradução: Katarina Peixoto
O presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Celso Lacerda, rebate a tese dos fazendeiros verde-amarelos e argumenta que a forma de salvar a Amazônia é através da Reforma Agrária e do estímulo estatal à agricultura familiar.
“A agricultura em grande escala cada vez precisa de mais terra para plantar e, consequentemente, está usando cada vez mais insumos. Em função disso, é uma agricultura poluente. Esse é um modelo de agricultura que foi fundamental para a revolução verde, décadas atrás. No nosso caso, estamos numa política de reforma agrária que é contrária a esse modelo e à política de uma economia de escala que prioriza o uso de insumos e que leva à ampliação da superfície da terra que é explorada”, disse Carlos Lacerda, presidente do Incra, em conversa com a Carta Maior.
“Isso tudo leva à concentração, leva à poluição do meio ambiente. Nós estamos na contramão disso. Defendemos a agricultura familiar porque os pequenos agricultores familiares assentados na Reforma Agrária não agridem a Amazônia”, acrescenta.
Lacerda participou de uma mesa redonda organizada nesta quinta-feira (14) no Riocentro, paralela à Cúpula Rio+20, organizada pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM).
"O nosso grande desafio é não tratar a reforma agrária como uma politica estanque, mas sim inserida numa maior amplitude, e compreender sua importância e impacto na Amazônia”, afirma Lacerda.
O presidente do Incra falou para um público composto, em bom número, por ambientalistas e jornalistas estrangeiros, interessados em conhecer a posição brasileira sobre o financiamento oferecido às comunidades que não agridem o ecossistema amazônico. Indagado sobre se o financiamento estrangeiro pode ameaçar a autonomia do Estado brasileiro, ele respondeu:
“Acredito que não, porque o governo com o programa Bolsa Verde já é um modelo de remuneração pela manutenção (da floresta) para populações extremamente pobres. No campo esses pequenos agricultores familiares que ainda tem floresta em pé recebem financiamento do Estado brasileiro para mantê-la assim”.
Lacerda e os representantes do IPAM concordaram que os assentamentos devem ser ambientalmente sustentáveis e economicamente viáveis para os pequenos agricultores. Um representante do IPAM assinalou que, anos atrás, o Incra era “a ovelha negra do desmatamento” porque não tomava cuidado com o meio ambiente mas “felizmente essa postura mudou nos últimos anos, agora há um novo modelo de reforma agrária, um novo modelo de assentamentos, que parte da premissa de viver, produzir e conservar”. “Hoje a reforma agrária segue novos conceitos e isso permite trabalhar conjuntamente com o Incra. O importante é juntar a modernização da agricultura familiar, o aumento dos assentamentos e a defesa da Amazônia”.
A mesa redonda organizada pelo IPAM ocorreu na manhã desta quinta, enquanto em outro pavilhão do Riocentro diplomatas e funcionários da ONU continuavam suas infrutíferas negociações para chegar a um documento consensual a ser apresentado na próxima semana aos presidentes que encabeçarão a última parte da cúpula.
Até o momento, a informação oficial é que os governantes das duas maiores potências capitalistas ocidentais não participarão da cúpula: Barack Obama e Ângela Merkel, duas ausências de peso por sua importância política e diplomática, o que colocará o Norte em desvantagem em relação ao Sul, que contará com a maioria de seus governantes. O presidente russo Vladimir Putin também não deve participar do encontro no Rio de Janeiro.
Indagado sobre se acha que o documento final da Rio+20 pode ser um fracasso, Lacerda disse:
“Há avanços, mas todo mundo sabe que o documento final é uma coisa imprevisível. Não tenho como dizer o que vai acontecer. Creio que a situação de crise global influenciará a conclusão da Rio+20. Vai depender a vontade política dos chefes de Estado. É positivo que os países emergentes atuem de forma mais coordenada e constituam uma eventual frente unida na Cúpula”.
Tradução: Katarina Peixoto
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