Reforma de casa 'provisória', segundo arquiteto, custou R$ 500 mil.
Conversa sobre obra teria sido em maio de 2011; registro saiu em junho.
Mariana OliveiraDo G1, em Brasília
O relator da CPI mista que investiga as relações do bicheiro Carlinhos Cachoeira com agentes públicos e privados, deputado Odair Cunha (PT-MG), apresentou nesta terça-feira (26) novas gravações telefônicas repassadas pelas autoridades judiciais que apontam que Cachoeira já morava na casa que pertencia ao governador Marconi Perillo (PSDB-GO) antes mesmo da data do registro da transferência do imóvel em cartório.
Segundo o relator, áudios da Polícia Federal do começo de maio mostram o arquiteto Alexandre Milhomem, que prestou depoimento à CPI nesta terça sobre a reforma do imóvel, conversando com Cachoeira e com a mulher dele, Andressa Mendonça, sobre a obra na casa.
Em depoimento à CPI, Perillo apresentou três cheques recebidos pela venda da casa, sendo o último para o começo de maio, em nome da empresa Excitant, de propriedade de um parente do contraventor. O governador afirmou que vendeu ao ex-vereador Wladimir Garcêz e que cobrou dele a transferência na titularidade do imóvel. Mas que, depois, Garcêz disse que repassaria o imóvel para outra pessoa, o professor Walter Paulo Santiago. O registro em cartório, em nome da empresa Mestra, para a qual Santiago trabalhava, saiu em junho.
"O depoente Alexandre Milhomem colabora com essa CPI quando mostra que Andressa [Mendonça, mulher do bicheiro] ainda em junho procurava Alexandre Milhomem. Ainda em junho, quando a casa não tinha sido vendida para Walter Santiago, que foi enganado. Não tem problema governador vender casa para Carlinhos Cachoeira. Tem problema sim na negativa dessa negociação", afirmou o relator, após ser acusado pelo deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) de "perseguição" ao governador goiano.
Segundo depoimento de Walter Paulo Santiago, Garcêz vendeu a ele a casa e pediu o imóvel emprestado para uma terceira pessoa de nome Andressa.
R$ 500 mil por casa 'provisória'
Durante o depoimento, o arquiteto disse que a reforma da casa, na qual o casal moraria de forma "provisória", custou R$ 500 mil.
"A cliente tem um gosto excessivo. Acho que a reforma ficou em cerca de R$ 500 mil. Cada um investe no que pode", afirmou Milhomem. Ele disse ainda que a mulher do bicheiro, a quem chamava de "assessora", tinha "bom gosto".
Segundo o arquiteto, ele foi apresentado a Carlos Cachoeira e Andressa em fevereiro, quando teve o primeiro contato com os dois. Segundo ele, o cliente pediu "sigilo", que fazia com que ele não se referisse a Andressa pelo nome. “Eu chamava ela [Andressa] de assessora. Foi um sigilo que meu cliente me pediu”, disse.
Perguntado sobre se conhecia Walter Paulo Santiago, o dono da casa onde Cachoeira morava, ele afirmou: "Não conheço, não sei quem é”.
Bate-boca
O depoimento do arquiteto foi responsável por uma tensão entre parlamentares governistas e oposicionistas. O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) questionou a atuação da CPI, que estaria discutindo "papel de parede".
"É uma vergonha para essa CPI que não tenhamos convocado o senhor Fernando Cavendish e estejamos aqui ouvindo um arquiteto", disse, em referência ao ex-presidente da construtora Delta, que tem contratos com o governo federal e é suspeita de ter repassado dinheiro para empresas fantasmas que abasteciam o grupo de Cachoeira.
Mais exaltado, o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) afirmou que o depoimento deprecia a comissão.
"Não é o papel da reforma, mas o papel de relator que exerce que está depreciando. [...] O papel que vossa senhoria está fazendo deprecia essa CPI. [...] É a primeira CPI que me sinto diminuído de participar." Ele citou que o relator tem "papel persecutório" em relação ao governador Marconi Perillo.
O relator rebateu: "Chamamos pessoas ligadas ao senhor Marconi Perillo porque essa organização está infiltrada no governo de Goiás. [...] O direcionamento não é da relatoria. É de uma organização criminosa que ameaça juízes, que ameaça procuradores", bradou o relator. "É inconstitucional", rebateu Sampaio.
O relator, então, pediu novamente a palavra. "Eu ouvi pacientemente o senhor, agora o senhor escute. [...] Quem se comprometeu com contraventor, quem deveria combater se associou a ela. E temos que buscar prova disso. Quem deveria prender o contraventor, foi seu aliado. Sentou nessa cadeira e o chamou de empresário", rebateu o relator.
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