Nova classe média lota hotéis, aviões e antecipa gargalo da Copa-2014 - Copa 2014 - UOL Esporte
Roberto Pereira de Souza - Em São Paulo
Convidado a explicar a situação hoteleira do Brasil a dois anos e meio do início da Copa do Mundo-2014, Enrico Fermi Torquato, presidente da Associação Brasileira da Indústria Hoteleira, é um homem quase tranquilo. Tranquilo em relação aos 600 mil turistas que devem visitar o País entre julho e agosto de 2014 e preocupado em relação ao mercado brasileiro que está para receber mais 50 milhões de pessoas na chamada classe média, pronta para consumir, viajar de avião e invadir os hotéis.
Os números chamaram até a atenção da Presidência da República: segunda-feira (08/08), a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) promoveu um seminário com especialistas em geografia humana e urbana para diagnosticar o quadro emergencial que obriga a a criaçao de novas políticas públicas, voltadas para educaçao, transportes, saúde e habitação.
Os painéis apresentados mostraram, por exemplo, que a classe média do Nordeste é maior que a do Sul, só perdendo para o Sudeste. Nos últimos 21 meses, mais de 13 milhões de pessoas migraram da classe D e E para a classe C. Mais que isso, 53% da população brasileira estão na classe média, com ganhos de até R$ 4.600,00.
Na opinião do acadêmico Roberto Dutra, pesquisador da Universidade Federal de Juiz de Fora (MG) e doutorando em Sociologia pela Universidade de Berlin (Alemanha) e que participou do seminário em Brasília, o desafio dos governos é muito grande:
“Estamos falando de dezenas de milhões de pessoas que agora podem sonhar concretamente com horizontes de vida típicos da classe média tradicional, como formação profissional e universitária de qualidade, acesso a um serviço de saúde eficiente e à informação diversificada”, disse Roberto Dutra.
Dormindo na rua?
A concorrência dos novos consumidores já deu sinais vivos ao presidente da ABIH, Enrico Fermi Torquato de que a situação da oferta de serviços básicos se afunila no Brasil. Ele já foi vítima da superlotação hoteleira, no Rio de Janeiro.
“Eu mesmo quase dormi na rua, no Rio de Janeiro e sou presidente da associação brasileira de hotéis. Saí de um evento no Rio Grande do Sul e cheguei ao Rio sem reserva. Tive que buscar uma cama extra na casa de um amigo, que me hospedou. Só não fiquei na rua por causa do meu amigo. O crescimento de vagas é um a exigência interna do Brasil mesmo sem eventos como a Copa do Mundo e Olimpíadas”, disse o dirigente hoteleiro.
O presidente da ABIH explica também que sedes da Copa como Manaus e Cuiabá vivem mais do turismo de negócios. “Isso quer dizer que a estrutura dessas cidades estará praticamente disponível para os turistas da Copa. Não haverá convenções de negócios durante os jogos do mundial”, prevê Fermi Torquato.
“A Copa do Mundo não representará um gargalo para nós. Já vivemos esse gargalo nos hotéis do Rio de Janeiro e Recife, devido ao crescimento econômico regional. Pernambuco deu um salto econômico e, por isso, faltam dez mil leitos nas duas cidades”, explicou Enrico Torquato.
R$ 50 bi para Pernambuco
Enrico está bastante otimista em relação ao boom econômico de Pernambuco:
“O Estado deve investir cerca de R$ 50 bilhões nos próximos anos. Acrescente-se a isso o fato de que teremos mais 50 milhões de brasileiros na classe média, nos próximo cinco ou seis anos. Em 2010, já tivemos o registro de que 30 milhões de novos consumidores brasileiros estavam disputando lugares nos aviões e hotéis. Tá todo mundo trocando ônibus por avião e devemos nos preparar para isso seriamente”, explicou o dirigente do setor hoteleiro.
O presidente da ABIH garante que Rio de Janeiro e Recife já estão construindo os quartos que faltam para atendimento do mercado interno. Atendida a demanda interna, a Copa estará atendida automaticamente. No Rio de Janeiro, há 36 projetos de construção de novos hotéis, sendo 17 na Baixada Fluminense. “Nas duas cidades de gargalo, temos ocupação média de 85% da capacidade hoteleira. Isso significa que em vários momentos do ano temos ocupação total de todos os quartos”, explicou Torquato.
Em relação ao que poderá ser feito para a Copa-2014, o presidente da ABIH lembra que todas as sedes contarão com a rede hoteleira do entorno em um raio de até 400 quilômetros. Isso resolveria problemas também nas sedes menores: “Sabemos que em um raio de até 400 quilômetros a rede hoteleira atenderá as sedes da Copa. Isso resolve a demanda e não vejo como necessária nenhuma medida fora de padrão para atender os torcedores, como hotéis flutuantes ou alojamentos emergenciais, como containers, etc”.
Outro ponto tranquiliza Fermi Torquato: “sabemos que no mês da Copa, o turismo normal e o de negócios tendem a diminuir no Brasil. O custo dessas viagens será muito alto para a realização de convenções, por exemplo. Os turistas da Copa virão pelo futebol. Diminui o fluxo de turistas normais e de negócios, e crescerá o turismo do futebol”, prevê o dirigente da ABIH.
Mobilidade urbana
Apesar de estar equacionada a questão hoteleira para a Copa-2014, Torquato teme o calendário apertado para outras obras de infraestrutura: “O que me preocupa é a mobilidade urbana desses turistas brasileiros e estrangeiros. Teremos 600 mil estrangeiros e ainda não sabemos como vamos atender a nova classe média e os estrangeiros que virão de avião para a Copa do Mundo”, explicou o dirigente. “Atendendo a demanda interna na mobilidade social, a Copa também estará atendida”, prevê Torquato.
O ministro de Esporte Orlando Silva também acompanha de perto os cerca de 50 projetos de mobilidade urbana que o Governo Federal se dispõe a patrocinar com rapidez, desde que os projetos estejam aprovados até o dia 31 de dezembro de 2011. A outra data importante inclui os projetos, cuja conclusão, por contrato, esteja garantida até dezembro de 2013.
“Há atrasos, sim, mas não do Governo Federal. Nós estamos com o financiamento aberto, esperando os projetos”, reclamou Silva.
“Com boas estradas, o torcedor pode se deslocar em um trecho de até 400 quilômetros. Brasília tem Goiânia em seu entorno. No Nordeste, a duplicação da BR 101 ajudará a mobilidade dos torcedores entre Natal e Recife. Os torcedores de São Paulo poderão se hospedar em Santos, Campinas e fazer o trecho de carro, também. A ideia é não gerar passivo para os empresários hoteleiros para depois da Copa, com quartos sem ocupação. A conta tem de ser bem feita e paga”.
Até 2013, Rio de Janeiro e Recife receberão cerca de 20 mil quartos novos ou cerca de 40 mil leitos (média de duas pessoas por quarto). Além dos 50 projetos de mobilidade urbana que estão sendo elaborados para montar o legado da Copa-2014, o Governo Federal irá privatizar a gestão dos principais aeroportos do País: Cumbica, Congonhas e Viracopos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário