BLOG DO VICENTE CIDADE

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sexta-feira, 12 de agosto de 2011

BNDES: o desenvolvimento e o financiamento do investimento

A função de financiador do desenvolvimento que o BNDES desempenha tem se consolidado: em dezembro de 2007, seus desembolsos representavam 5,71% do PIB; em dezembro de 2010, representaram 9,24%. Os financiamentos também têm contribuído para reduzir as desigualdades regionais e para estimular o micro, o pequeno e o médio negócio.

Do Portal Carta Maior por Lindbergh Farias*

O Brasil vive um ciclo de crescimento econômico com justiça social. Medidas de estímulo ao investimento foram fundamentais para a retomada da trajetória consistente de crescimento, solidificada a partir de 2007. Nos últimos anos, a taxa média de crescimento do investimento tem sido superior entre duas e três vezes a taxa de crescimento de toda a economia. No período 2007-2010, a economia cresceu, em média, 4,5% ao ano, enquanto o investimento cresceu, no mesmo período, quase 10% ao ano, em média. Somente no ano de 2010, quando a economia cresceu 7,5%, o investimento cresceu quase 22%.

Para financiar o investimento, em 2008, o BNDES desembolsou R$ 100 bilhões. Em 2009, ano em que a economia brasileira sofreu os impactos negativos da crise internacional, o BNDES atuou de forma contracíclica e aumentou seus desembolsos, atingindo o valor de R$ 143,2 bilhões. E, em 2010, o BNDES financiou o valor de R$ 168,5 bilhões. A função de financiador do desenvolvimento que o BNDES desempenha tem se consolidado: em dezembro de 2007, seus desembolsos representavam 5,71% do PIB; em dezembro de 2010, representaram 9,24%.

A atividade de financiamento do BNDES tem sido apoiada pelo governo federal através de empréstimos do Tesouro. Em 2009, o aporte do Tesouro ao BNDES foi de R$ 100 bilhões, em 2010, foi de R$ 80 bilhões e, ao longo de 2011, será de R$ 55 bilhões. Essas operações não aumentam a dívida pública líquida – o que existe é simplesmente uma operação de empréstimo: o aumento da dívida pública bruta é anulado pela garantia de pagamento por parte do BNDES.

Aliás, cabe informar que a dívida pública líquida, em 2002, era 60,4% do PIB. Em dezembro de 2010, foi reduzida para 40,2% e, em maio, caiu para 39,8%. Esta dívida de 39,8% do PIB tem o valor nominal de R$ 1,53 trilhões. Uma dívida pública deve ser sempre medida (analisada) de forma líquida, ou seja, fazendo-se o desconto (a diminuição) dos ativos negociáveis pertencentes ao devedor - já que esses ativos podem ser transformados em reais, de forma imediata, e podem liquidar (pagar) a dívida, parcialmente ou integralmente.

No caso do governo central, deve-se descontar da dívida bruta, por exemplo, as reservas internacionais para que cheguemos à dívida líquida. Mas, a dívida líquida deve ser sempre comparada com o PIB, porque este representa o potencial de arrecadação e, então, representa a capacidade de pagamento do serviço da dívida por parte do Governo.

Em outras palavras, com um PIB maior, maior pode ser a arrecadação e maior poderá ser o superávit primário (que paga o serviço da dívida). De janeiro a maio, o superávit primário acumulado foi de R$ 64,8 bilhões e como % do PIB alcançou 4,03% (no ano passado, no mesmo período, havia sido de 2,78% do PIB). E, de janeiro a maio, o déficit nominal, que é a soma de todas as receitas e despesas (inclusive, o pagamento de juros) foi de 2,24% do PIB. No ano passado, no mesmo período, o déficit nominal havia sido de 2,55% do PIB. Esses são números que qualquer fiscalista ortodoxo europeu invejaria. E para aqueles, que apesar de tudo, cultuam o valor da dívida pública bruta, esta também está em queda, reduzindo-se 76,7% do PIB, em 2002, para 66%, em 2010. Em maio de 2011, alcançou 64,5% (aqui foi utilizada a metodologia antiga do Banco Central que permite comparar os anos de 2002, 2010 e 2011 – pela nova metodologia, também existe uma tendência acentuada de queda).

Pode ser alegado ainda que se a União faz um empréstimo ao BNDES e é remunerada pela TJLP, mas seu custo de captação é calculado com a taxa de juros Selic, então, ao longo dos anos a União seria onerada pela diferença entre essas duas taxas relativamente ao volume da operação.

Sim, de fato, existe esse custo. Mas, é um custo apenas relativo ao serviço de dívida pública. É o mesmo custo fiscal decorrente de operações de elevação da taxa de juros realizada pelo Banco Central. Contudo, esse custo da União para apoiar o investimento privado via BNDES é menor que o custo para financiar o investimento público. No caso do primeiro, o custo para o Tesouro é a diferença entre a taxa Selic descontada da TJLP aplicada ao valor do aporte ao longo tempo. Por outro lado, o custo de juros do financiamento estritamente público, realizado pelo governo, é calculado com base somente taxa na Selic.

A visão crítica aos aportes Tesouro-BNDES desconsidera o estímulo ao micro, pequeno e médio negócio, a redução de desigualdades regionais, a geração/manutenção de empregos e renda, a melhoria da qualidade de vida da população e, sobretudo, a arrecadação gerada, que mais que compensa hipotéticos prejuízos à União. Vamos aos números.

Os financiamentos do BNDES também têm contribuído para reduzir as desigualdades regionais. Em 2001, a região norte recebia apenas R$ 1,7 bilhão de créditos do BNDES; em 2010, recebeu R$ 11,7 bilhões. A região nordeste, recebia, em 2001, R$ 5,9 bilhões, em 2010, recebeu R$ 17,2 bilhões. A região centro-oeste, recebia, em 2001, R$ 3 bilhões, em 2010, recebeu R$ 11,4 bilhões (todos os valores mencionados foram corrigidos pelo IPCA). O destaque é a região norte que multiplicou em quase 8 vezes o volume de crédito do BNDES entre 2001 e 2010.

Os financiamentos do BNDES têm contribuído ainda para estimular o micro, o pequeno e o médio negócio. Segundo dados do BNDES, em 2001, as micro e pequenas empresas recebiam apenas R$ 3,4 bilhões em créditos do Banco, em 2010, receberam R$ 23,7 bilhões. A média empresa recebia, em 2001, R$ 2,7 bilhões, em 2010, recebeu R$ 13,5 bilhões (todos os valores mencionados foram corrigidos pelo IPCA). Totalizando esses valores, pode-se inferir que os créditos do BNDES às micro, pequenas e médias empresas foram multiplicados em 6 vezes em termos reais no período 2001-2010. Em 2001, os créditos para essas empresas representavam 13% do total de desembolsos do BNDES, ao final de 2010, representavam mais que 22%. Do total de R$ 168,5 bilhões, desembolsados em 2010 pelo BNDES, R$ 37 bilhões foram destinados a estas empresas.

Segundo o Relatório Gerencial do BNDES do primeiro trimestre 2011, o desembolso feito pelo Banco de janeiro de 2009 a março de 2011 no valor de R$ 178 bilhões gerou ou manteve mais que 5,6 milhões de empregos na economia brasileira. Portanto, para cada R$ 32 mil desembolsados foi gerado ou mantido um emprego na economia. Grosso modo - e mantidas condições econômicas semelhantes – pode-se dizer que os R$ 55 bilhões emprestados pela União ao BNDES, em 2011, poderão gerar ou manter mais que 1,7 milhão de empregos na economia brasileira.

E, de acordo com a Pesquisa Mensal de Emprego (PME/IBGE) divulgada em junho, o ganho real médio do trabalhador por mês de janeiro a maio foi de R$ 1.567,65. Logo, se aceito esse valor como base, somente em termos de renda do trabalho, o empréstimo da União ao BNDES, poderá gerar/manter mais que R$ 2,7 bilhões por mês (aceitando-se que mais que 1,7 milhão de empregos foram gerados ou mantidos). Se considerarmos um carga tributária sobre os ganhos do trabalho da ordem 34%; em um ano, unicamente a atividade do trabalho, estimulada por esta operação de empréstimo Tesouro-BNDES, geraria uma arrecadação de mais de R$ 11 bilhões. Cabe lembrar, que empresas e bancos também geram arrecadação quando a economia é estimulada – a arrecadação gerada por estes segmentos aumentará o valor mencionado de R$ 11 bilhões.

Acumulei esses conhecimentos ao estudar a matéria quando fui o relator da MP 526/2011 que foi aprovada recentemente no Senado e autorizou a União a emprestar R$ 55 bilhões ao BNDES. Esse conjunto de números que expus ao leitor me convenceu que o governo e o BNDES estão no caminho certo: que temos que fazer o nosso crescimento com investimento e redução de desigualdades regionais e sociais.

(*) Senador do PT-RJ.

2 comentários:

  1. Cidade, de todo esse imbroglio do 366 uma coisa me deixa encucado: e as Normas a serem seguidas pelo governo do estado no emprestimo feito pelo BNDES não são levadas em consideração na condução da aplicação dos recursos? esse pilantra do Parsifal quer fazer crer qque o que vale é a lei tirada de sua mente "privilegiada" em que o govrno do estado deveria pagar emendas parlamentares e dar dinheiro pra prefieto do PMDB financiar a campanha pro senado do Dr jardi. ae ai,como ficamas normas do BNDES?

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  2. Caro Anônimo,

    No meu entender não nenhuma desobediência às normas do BNDES, o que há na verdade é uma situação política criada por esse governo do Jatene e que agora respinga nas prestações de contas do empréstimo.

    Veja o seguinte, na lei que autorizou o empréstimo junto ao BNDES, a governadora VETOU o trecho que criava a "farra do boi" e invadia as atribuições do estado, logo, para o BNDES a lei em vigor era aquela que continha os vetos do governo.

    Isto posto, toda prestação de conta feita com base na lei que vigorava na época estava correta, tanto que fora aceita pelo BNDES.

    Contudo, uma vez que a base aliada do novo governo foi orientada pelo Jatene a derrubar o veto governamental, a lei voltou a ser aquela que continha as excrecências impostas pela oposição, logo o que estava correto virou incorreto.

    Essa é a manobra que o povo precisa entender e consiste em duas estratégias nogentas:

    1) Os tucanos querem desgastar a imagem do PT e deixar a governadora Ana Júlia inelegível;

    2) Querem, após isso, criar uma nova lei na ALEPA em substituição desta existente, que permita ao Jatene prestar contas ao BNDES com as mesmas obras que a Ana já encaminhou e posteriormente pegar os R$ 90 milhões que ainda estão disponíveis para aplicar da forma como bem entender.

    Essa é exatamente a questão. É só mais uma tentativa de golpe tucano-barbálico.

    Vicente Cidade

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