Ouro na ginástica em Londres, Zanetti não descarta competir por outro país
Falta de investimentos no esporte desanima ginasta campeão olímpico nas argolas; ele afirma que condições não mudaram após medalha nos Jogos
Por GLOBOESPORTE.COMSão Paulo
Nos Jogos de Londres, em 2012, Arthur Zanetti se sagrou campeão olímpico nas argolas e entrou para a história como o primeiro brasileiro a conquistar uma medalha na ginástica artística. Nove meses depois do feito inédito, Zanetti se mostra desanimado com a situação da sua modalidade no país. Em entrevista exclusiva ao apresentador Ivan Moré para o Esporte Espetacular, o atleta revelou que não descarta a possibilidade de defender outro país.
- Eu já coloquei na minha cabeça que se surgir uma oportunidade legal, não só para mim, mas para o grupo de profissionais que vão me ajudar, eu pensaria, sim, em competir por outro país - afirmou o campeão olímpico.
No entanto, Zanetti não espera ter que tomar essa atitude extrema, mesmo assim desabafa:
- Eu faria isso de coração partido, porque sou brasileiro, gosto de ser brasileiro. Mas o Brasil não está me dando o que estou precisando no momento. O que eu mereço. E se algum outro país me der o que mereço, paciência. Com certeza, será de coração partido, mas preciso pensar no meu futuro também.
Arthur Zanetti concede entrevista ao Esporte Espetacular (Foto: Reprodução/TV Globo)
O motivo das declarações do atleta está ligado diretamente à falta de investimento e estrutura do esporte no país. Após a apresentação quase perfeita nas argolas que fez o atleta desbancar os favoritos ao ouro nas Olimpíadas de Londres, ele e o técnico Marcos Goto acreditaram que a conquista mudaria tudo.
- Eu sempre achei na minha cabeça que quando você chegasse a um ouro olímpico, você não iria esperar mais nada. Tudo vai acontecer para você como um passe de mágica. Mas isso aqui é Brasil. Nada acontece como um passe de mágica, infelizmente - disse o técnico de Zanetti.
A realidade foi bem diferente do que eles esperavam. O centro de treinamento onde o atleta treinou antes das Olimpíadas, e continua treinando hoje, conta com equipamentos modestos bem diferentes dos padrões internacionais. Apesar da medalha de ouro e da promessa de novas conquistas que poderiam sair dali, o local não recebeu nenhum investimento.
O motivo das declarações do atleta está ligado diretamente à falta de investimento e estrutura do esporte no país. Após a apresentação quase perfeita nas argolas que fez o atleta desbancar os favoritos ao ouro nas Olimpíadas de Londres, ele e o técnico Marcos Goto acreditaram que a conquista mudaria tudo.
- Eu sempre achei na minha cabeça que quando você chegasse a um ouro olímpico, você não iria esperar mais nada. Tudo vai acontecer para você como um passe de mágica. Mas isso aqui é Brasil. Nada acontece como um passe de mágica, infelizmente - disse o técnico de Zanetti.
A realidade foi bem diferente do que eles esperavam. O centro de treinamento onde o atleta treinou antes das Olimpíadas, e continua treinando hoje, conta com equipamentos modestos bem diferentes dos padrões internacionais. Apesar da medalha de ouro e da promessa de novas conquistas que poderiam sair dali, o local não recebeu nenhum investimento.
Arthur Zanetti concede entrevista ao Esporte Espetacular (Foto: Reprodução/TV Globo)
Zanetti e o time masculino dividem os equipamentos ultrapassados e, muitas vezes, improvisados, com crianças da escolinha do São Caetano. Não há vestiário e as mochilas e materiais dos profissionais ficam jogados na arquibancada. Os atletas são responsáveis pela higiene do local e, como não há alojamento, eles descansam nos próprios colchões onde treinam.
- A comparação com outros países, da Europa, que geralmente vamos mais, é que estamos bem atrás com relação a estrutura. Um exemplo que a gente tem é a Bélgica, que não é um país que a gente compete diretamente e estamos até na frente deles, e mesmo assim a cada esquina eles têm um ginásio para escolinha e para o alto rendimento. Eles ainda têm muitos clubes espalhados. Isso a gente sente muita falta, dá para treinar, mas a qualidade acaba interferindo um pouco também.
Zanetti e o time masculino dividem os equipamentos ultrapassados e, muitas vezes, improvisados, com crianças da escolinha do São Caetano. Não há vestiário e as mochilas e materiais dos profissionais ficam jogados na arquibancada. Os atletas são responsáveis pela higiene do local e, como não há alojamento, eles descansam nos próprios colchões onde treinam.
- A comparação com outros países, da Europa, que geralmente vamos mais, é que estamos bem atrás com relação a estrutura. Um exemplo que a gente tem é a Bélgica, que não é um país que a gente compete diretamente e estamos até na frente deles, e mesmo assim a cada esquina eles têm um ginásio para escolinha e para o alto rendimento. Eles ainda têm muitos clubes espalhados. Isso a gente sente muita falta, dá para treinar, mas a qualidade acaba interferindo um pouco também.
Arthur Zanetti concede entrevista ao Esporte Espetacular (Foto: Reprodução / TV Globo)
O Comitê Olímpico Brasileiro (COB) concorda que falta investimento no esporte no Brasil. Mas afirma que a responsabilidade pela falta de estrutura, neste caso, vai além da responsabilidade da entidade.
- Existe a necessidade de investimento, sim, e existe toda uma gama de entidades que precisam participar desse processo. O COB tem suas competências, tem a sua área de atuação, como tem as responsabilidades do Ministério, das secretarias estaduais, das prefeituras, dos próprios clubes. Cada um contribuindo, a gente consegue elevar a qualidade dessas instalações e oferecer uma melhor qualidade de treinamento para os atletas brasileiros - disse Jorge Bichara, Gerente de Desenvolvimento Esportivo e Projetos Especiais do COB.
Diante de toda a discussão, surge uma outra questão: legalmente é possível que o Brasil "perca" Zanetti para outro país? Segundo as regras da Federação Internacional de Ginástica e do Comitê Olímpico Internacional, sim. De acordo com a lei, quando um ginasta que já representou seu país muda para outro e obtém cidadania, ele pode, com a permissão das duas federações, representar o novo país imediatamente. Se as duas federações não chegarem a um acordo, o Comitê Executivo da Federação pode entrar em cena e garantir a transferência num prazo de um ano.
Pelas regras das Olimpíadas, a mudança também pode acontecer. Um competidor que já representou um país nos Jogos Olímpicos pode participar de outra edição depois de três anos. Mas este período pode ser reduzido ou mesmo cancelado com a permissão do próprio COI. E isso já aconteceu no caso da ginasta Oksana Chusovitina, que trocou de nacionalidade duas vezes durante a carreira.
O Comitê Olímpico Brasileiro (COB) concorda que falta investimento no esporte no Brasil. Mas afirma que a responsabilidade pela falta de estrutura, neste caso, vai além da responsabilidade da entidade.
- Existe a necessidade de investimento, sim, e existe toda uma gama de entidades que precisam participar desse processo. O COB tem suas competências, tem a sua área de atuação, como tem as responsabilidades do Ministério, das secretarias estaduais, das prefeituras, dos próprios clubes. Cada um contribuindo, a gente consegue elevar a qualidade dessas instalações e oferecer uma melhor qualidade de treinamento para os atletas brasileiros - disse Jorge Bichara, Gerente de Desenvolvimento Esportivo e Projetos Especiais do COB.
Diante de toda a discussão, surge uma outra questão: legalmente é possível que o Brasil "perca" Zanetti para outro país? Segundo as regras da Federação Internacional de Ginástica e do Comitê Olímpico Internacional, sim. De acordo com a lei, quando um ginasta que já representou seu país muda para outro e obtém cidadania, ele pode, com a permissão das duas federações, representar o novo país imediatamente. Se as duas federações não chegarem a um acordo, o Comitê Executivo da Federação pode entrar em cena e garantir a transferência num prazo de um ano.
Pelas regras das Olimpíadas, a mudança também pode acontecer. Um competidor que já representou um país nos Jogos Olímpicos pode participar de outra edição depois de três anos. Mas este período pode ser reduzido ou mesmo cancelado com a permissão do próprio COI. E isso já aconteceu no caso da ginasta Oksana Chusovitina, que trocou de nacionalidade duas vezes durante a carreira.
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