Morta nesta segunda, Margaret Thatcher usou tragédia para moldar futebol inglês à sua imagem
- Por Thiago Cara, do ESPN.com.br
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Morreu nesta segunda-feira, aos 87 anos, a ex-ministra britânica Margaret Thatcher, vítima de um derrame. Primeira mulher a alcançar o mais alto posto político da Inglaterra, a “Dama de Ferro”, como ficou conhecida, teve papel fundamental na construção do futebol inglês como é conhecido atualmente.
Um dos ícones da política neoliberal, Thatcher teve a mesma “mão de ferro” utilizada na economia, no futebol. Assim como fragilizou os sindicatos, enfraqueceu as “firms”. Contra os trabalhadores, se valeu de impostos e privatizações; já para atacar os hooligans criou uma mentira.
No último dia 12 de setembro, o atual primeiro-ministro britânico, David Cameron, se desculpou com as famílias das 96 pessoas mortas na tragédia no Estádio de Hillsborough, em abril de 1989, na partida entre Liverpool e Nottingham Forest. Durante 23 anos, o Reino Unido culpou “inocentes”.
Em uma “manipulação grosseira”, como o próprio Cameron definiu, os torcedores do Liverpool foram responsabilizados pela tragédia, com base no Relatório Taylor, chefiado e aprovado por Thatcher. Ali, a primeira ministra decidia por um ponto final na violência, que, de fato, por anos imperou no futebol inglês – mas não naquele 15 de abril de 1989.
Imediatamente após a tragédia, o governo britânico constituiu uma comissão, chefiada por Peter Taylor, para investigar o ocorrido dentro do estádio e sugerir providências para o fim do hooliganismo. No entanto, o jogo já estava decidido antes do apito inicial - fato comprovado pela informação de que 164 relatórios produzidos por policiais, 116 foram alterados.
Segundo Cameron revelou ao Parlamento em 2012, houve omissão de informações proposital, para que “comentários desfavoráveis sobre a atuação das autoridades” não vazassem. O objetivo da comissão era responsabilizar a torcida do Liverpool, para que a via para um “novo futebol” fosse pavimentada.
O pacote de transformações, que incluía reformas profundas na estrutura dos estádios, na abertura para o marketing e consumo no futebol, e as formas de financiamento dos clubes, já era planejado, mas ainda não tinha encontrado espaço para ser posto em prática. Hillsborough veio, então, em momento estratégico.
No entanto, os clubes não tinham estrutura para atender às novas exigências com a mesma rapidez com que as investigações de Hillsborough avançaram. Muito menos as torcidas. Assim, abriu-se caminho para o capital estrangeiro, que financiou arenas e colocou milionários no comando de muitas equipes.
Ao mesmo tempo em que expurgaram os hooligans e sua paixão pela violência dos estádios, as mudanças propostas pelo Relatório Taylor impuseram uma série de restrições para os torcedores mais pobres, que já não tinham condições de acompanhar a alta no preço dos ingressos – visto que o desemprego e a pobreza na Inglaterra cresceram com Thatcher.
Um dos ícones da política neoliberal, Thatcher teve a mesma “mão de ferro” utilizada na economia, no futebol. Assim como fragilizou os sindicatos, enfraqueceu as “firms”. Contra os trabalhadores, se valeu de impostos e privatizações; já para atacar os hooligans criou uma mentira.
No último dia 12 de setembro, o atual primeiro-ministro britânico, David Cameron, se desculpou com as famílias das 96 pessoas mortas na tragédia no Estádio de Hillsborough, em abril de 1989, na partida entre Liverpool e Nottingham Forest. Durante 23 anos, o Reino Unido culpou “inocentes”.
Em uma “manipulação grosseira”, como o próprio Cameron definiu, os torcedores do Liverpool foram responsabilizados pela tragédia, com base no Relatório Taylor, chefiado e aprovado por Thatcher. Ali, a primeira ministra decidia por um ponto final na violência, que, de fato, por anos imperou no futebol inglês – mas não naquele 15 de abril de 1989.
Imediatamente após a tragédia, o governo britânico constituiu uma comissão, chefiada por Peter Taylor, para investigar o ocorrido dentro do estádio e sugerir providências para o fim do hooliganismo. No entanto, o jogo já estava decidido antes do apito inicial - fato comprovado pela informação de que 164 relatórios produzidos por policiais, 116 foram alterados.
Segundo Cameron revelou ao Parlamento em 2012, houve omissão de informações proposital, para que “comentários desfavoráveis sobre a atuação das autoridades” não vazassem. O objetivo da comissão era responsabilizar a torcida do Liverpool, para que a via para um “novo futebol” fosse pavimentada.
O pacote de transformações, que incluía reformas profundas na estrutura dos estádios, na abertura para o marketing e consumo no futebol, e as formas de financiamento dos clubes, já era planejado, mas ainda não tinha encontrado espaço para ser posto em prática. Hillsborough veio, então, em momento estratégico.
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Em janeiro de 1990, menos de um ano após a tragédia, a comissão de Lorde Taylor apresentou seu relatório final. Nele, a capacidade de público deveria ser reduzida, todos os torcedores deveriam ficar sentados nos estádios, e os clubes se tornariam responsáveis pelos atos de seus fãs nas arquibancadas.
No entanto, os clubes não tinham estrutura para atender às novas exigências com a mesma rapidez com que as investigações de Hillsborough avançaram. Muito menos as torcidas. Assim, abriu-se caminho para o capital estrangeiro, que financiou arenas e colocou milionários no comando de muitas equipes.
Ao mesmo tempo em que expurgaram os hooligans e sua paixão pela violência dos estádios, as mudanças propostas pelo Relatório Taylor impuseram uma série de restrições para os torcedores mais pobres, que já não tinham condições de acompanhar a alta no preço dos ingressos – visto que o desemprego e a pobreza na Inglaterra cresceram com Thatcher.
Nas mãos da “Dama de Ferro”, o objetivo do futebol não deveria mais ser superlotar os estádios, como em Hillsborough, e tornar os clubes dependentes da venda de ingressos. O “novo torcedor”, confortável e seguro na arena, deve consumir mais do que sua entrada, aproveitar cada possibilidade de um jogo.
Para consolidar o projeto de Thatcher no futebol, em 1992, nasceu a Premier League, transformando o Campeonato Inglês em um modelo para Europa, seja no que tange à publicidade, patrocínio, jogadores ou mesmo na comercialização dos direitos de transmissão na televisão.
Nesta segunda-feira, antes do clássico de Manchester, entre United e City, um minuto de silêncio deve ser respeitado em homenagem à morte de Thatcher. Um silêncio que tem se tornado normal em arquibancadas lotadas, na liga que tem a maior média de público do futebol mundial e estádios com taxa de ocupação quase máxima em quase todos os seus jogos. Não por acaso.
Margaret Thatcher transformou o futebol inglês.
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