Consultor Amir Khair acredita que "não há razões técnicas" para elevar a taxa Selic neste momento e a pressão sobre o Copom tem "viés político"; segundo ele, "o preço do tomate está sendo usado como símbolo para isso" e o governo precisa enfrentar com firmeza o que se assemelha a uma nova edição do terrorismo inflacionário que ocorreu em 2011
15 DE ABRIL DE 2013 ÀS 08:22
247 - O economista Amir Khair não acredita que o ideal seja elevar a taxa básica de juros neste momento. Afinal, como informa o próprio Banco Central, o aumento da Selic demoraria de seis a nove meses para surtir efeito, enquanto os analistas indicam queda da inflação nos próximos dois. Segundo ele, "não há razões técnicas" para elevar a Selic agora e a pressão sobre o Copom "parece ter viés político".
Leia abaixo seu artigo publicado nesta segunda-feira no jornal O Estado de S.Paulo:
Terrorismo inflacionário
Com o resultado da inflação de março, de 0,47%, ocorreu o que os analistas e o governo já sabiam, ou seja, seria rompido o teto da meta de 6,50%. Nos últimos 12 meses encerrados em março o IPCA registrou 6,59%. O que ressalta são as fortes elevações de preços nos alimentos in natura (verduras, legumes, frutas, etc.).
Isso está gerando forte pressão do mercado financeiro sobre o Comitê de Política Monetária (Copom) pelo aumento da taxa Selic, em mais uma tentativa de recuperar lucros dos bons tempos da farta Selic. A pergunta é: deve o Copom elevar a Selic para combater a inflação? Não creio.
Como se sabe, o Banco Central (BC) sempre afirmou que qualquer alteração da Selic leva de 6 a 9 meses para surtir efeito, e as previsões de experientes analistas indicam queda da inflação nos próximos dois meses. Daí para a frente, as previsões costumam falhar.
Assim, qualquer precipitação em elevar a Selic joga por terra a "cautela" recomendada na última reunião do Copom. A maior parte dos analistas já admite que a elevação não será agora, na reunião do dia 17/4, mas alguns ainda apostam que isso ocorrerá no dia 29/5, na outra reunião do Copom. Não creio.
Não há razões técnicas para elevar a Selic e, mesmo que fosse elevada em um ou dois pontos, em nada alteraria o crescimento ou a inflação, muito menos os alimentos in natura. Vale observar que as expectativas inflacionárias são comandadas tecnicamente pela inflação de curto prazo e essa é cadente desde o início do ano.
O que se espera nos próximos meses, pois, é o retorno do IPCA para abaixo do teto da meta.
BCs no mundo. Desde dezembro, nenhum (!) banco central no mundo elevou a taxa básica de juros e oito a reduziram, pois a decisão é enfrentar o impacto da crise, que arrefeceu o crescimento. Além disso, a política dos bancos centrais é posicionar a taxa no nível da inflação, que na média dos emergentes está próxima a 5% ao ano. No caso dos países desenvolvidos, essa taxa tem sido inferior à inflação.
Ao que tudo indica, essa pressão parece ter viés político, como apontou o jornalista José Paulo Kupfer (Estadão, 11/4, B4) no artigo Preço arrefece, mas decisão sobre juros ganha viés político. O preço do tomate está sendo usado como símbolo para isso.
A questão política é marcada pelo que a oposição ao governo ganharia com o argumento que vem sendo apresentado, de que a presidente usou seu voluntarismo para reduzir a Selic e olha no que deu: elevou a inflação. Esse argumento não resiste aos fatos, pois metade da inflação se deve aos alimentos que sofreram choque internacional de oferta, que está progressivamente se dissipando. O índice das commodities agrícolas saiu do máximo de 155, no final de julho, para 121, no dia 9 deste mês.
Na realidade, o que parece desejar o mercado financeiro é voltar aos velhos tempos da Selic dos dois dígitos. Vale lembrar que, nas últimas gestões de presidentes do BC, a Selic foi caindo de 23,8% (Gustavo Franco, 1996 a 1998) para 19,8% (Armínio Fraga, 1999 a 2002), 14,9% (Henrique Meirelles, 2003 a 2010) e, na gestão Alexandre Tombini, caiu de 11,8%, em 2011, para 8,6%, em 2012, e 7,25%, neste ano.
Crescimento. Não creio no efeito de alteração da Selic para influir no crescimento. O que influi é a taxa de juro ao tomador, e esta é bem superior e não sofre estatisticamente influência da Selic.
Os sinais da baixa atividade econômica são claros: 1) indústria quase estagnada; 2) crédito perdendo força; 3) mercado de trabalho desacelerando; 4) volume de vendas do varejo estável desde outubro; e 5) crise internacional jogando a Europa na recessão, com a Alemanha, locomotiva da eurozona, amargando previsão de crescimento de 0,3% e o Japão parado há tempo.
Perspectivas. A consequência do impacto internacional é de continuação da queda nas commodities e nos preços internacionais. O mundo desinflaciona. A derrubada dos preços dos alimentos in natura já começou, pois a oferta agora é crescente e firme tanto no Brasil quanto nos principais países produtores. O BC acompanha isso e considera importante, ao tomar sua decisão.
Combate. A forma de impacto imediato de combate à inflação é a que o governo vem fazendo com desonerações, que reduziram as tarifas de energia elétrica e os produtos da cesta básica, e segurando os preços defasados dos combustíveis, sacrificando a Petrobrás. Fato é que o governo vai continuar as desonerações e, com isso, vai segurar a inflação para não romper o limite superior da meta. Nota-se o deslocamento da responsabilidade exclusiva do Banco Central pelo controle inflacionário para a equipe econômica (Fazenda e BC), coordenada pela presidente.
O momento é de pôr o pé no acelerador, reduzindo juros básicos e, principalmente, ao tomador, desonerando os produtos de consumo popular, depreciando o câmbio, completamente fora de lugar, e ampliando políticas de renda.
Que o governo não caia na armadilha de 2011, quando o terrorismo inflacionário gerou as medidas macroprudenciais que seguraram o crescimento. É preciso firmeza do governo para enfrentar o que se assemelha a uma nova edição desse terrorismo.
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