Se a tv estiver fora do ar
Quando passarem
Os melhores momentos da sua vida
Pela janela alguém estará
De olho em você
Completamente paranóico
Prenda minha parabólica
Princesinha clarabólica
Paralelas que se cruzam
Em belém do pará
Longe, longe, longe (aqui do lado)
(paradoxo: nada nos separa)
Humberto Gessinger/Engenheiros do Hawaii
Em minha revisão sobre esse movimento, finalmente percebi que foi o inconsciente da população que aflorou à realidade. As pessoas foram para as ruas livremente para protestar contra tudo, contra todos, contra qualquer coisa, sim, por que não? Não se trata sobre o que elas são contra, mas sobre o que elas têm a dizer.
A questão então é a seguinte: MEU ! VOCÊS SÃO NOSSOS REPRESENTANTES MAIS NÓS AINDA ESTAMOS AQUI. Ou seja, o povo saiu às ruas para dizer claramente o seguinte: “NÓS NÃO ESTAMOS CONCORDANDO COM O QUE VOCÊS ESTÃO FAZENDO”. No sentido mais profundo da cidadania o povo foi às ruas para defender o Brasil, de fato.
É intuitivo e por isso mesmo fascinante, o povo percebeu que a defesa do país passa por uma mudança profunda da forma de se fazer política, por isso o levante, por isso o clamor, por isso o exagero, por isso a participação massiva, por isso o isolamento à velha política e seus representantes.
Muita gente ainda não conseguiu perceber, mas esse dia 17 entrará na história do Brasil como o dia em que a sociedade brasileira mudou o rumo da sua democracia e “ordenou” a mudança. Daqui em diante o povo deve ser ouvido, “nós queremos determinar os rumos do Brasil, nós vamos participar das decisões, nós vamos decidir juntos”.
No decorrer do dia de ontem, após a estrondosa manifestação popular, alguns oportunistas tentaram se antecipar e decidiram reduzir unilateralmente os preços das passagens de ônibus em seus municípios, esses imbecis não entenderam o recado das ruas, foi justamente desse tipo de ação que a sociedade disse BASTA, chega de unilateralismo, doravante queremos discutir e decidir juntos.
Em São Paulo, foi dada uma demonstração inequívoca desse processo. O prefeito chamou o Conselho da Cidade a se manifestar e não escolheu o lado mais fácil de simplesmente voltar atrás e pronto, optou por fazer uma discussão conjunta para resolver o problema, por seu turno, a representação do movimento Passe Livre avisou que não confiava naquelas planilhas, que estava disposto a negociar, mas em outros marcos, não com aqueles métodos tecnocratas e viciados, enquanto isso a mobilização continua.
Em minha avaliação, para além da questão específica e caindo no campo do subjetivismo, acho que a sociedade, intuitivamente, percebeu que o sistema político brasileiro precisa se reciclar. Os métodos de construção das alianças partidárias, quer seja para chegar ao poder, quer seja para governar, se degradaram integralmente e precisam urgentemente de mudança. Isso ficou latente na forma como os partidos políticos foram rejeitados nas manifestações.
Em uma análise muito particular, acredito que o povo está querendo defender aquilo que já foi conquistado. Fica uma impressão de que subitamente o povo percebeu que a antecipação da disputa política e eleitoral está levando o país para a instabilidade e para o retrocesso, que essa disputa insana pelo poder está engessando o país e abrindo espaço para que algumas agendas já superadas voltem a ganhar força.
Paralelamente, acho também que a sociedade acordou para o fato de que essa disputa política expôs duas das principais chagas ainda marcantes na sociedade brasileira, que é a corrupção e o autoritarismo.
Quanto à corrupção, não me refiro ao governo A, B ou C, mas da corrupção encralacada no Estado brasileiro, que, literalmente rouba as oportunidades de melhoria na qualidade de vida das pessoas. Já o autoritarismo é responsável pelo total desprezo com que os governantes tratam a sociedade, de maneira que, uma vez investidos do poder, não respeitam suas diretrizes de campanha, abandonam facilmente aquelas bandeiras de identificação programática e passam a tomar decisões completamente distintas daquelas esperadas pela sociedade, independente se ela (a sociedade) concorde ou não com que está se fazendo.
Esse traço marcante da distorção do sistema político brasileiro ficaram bem acentuados agora, por ocasião da realização no país de dois dos maiores eventos comerciais do mundo, onde o que deveria ser motivo de orgulho nacional se transformou em um grande engodo, pois, sob o argumento de um comprometimento cego a um tal “Caderno de Encargos” de uma entidade privada, verdadeiros absurdos foram e estão sendo cometidos pelos governantes brasileiros, passando para a sociedade a percepção de que essa entidade passou a determinar, em alguns casos, a lógica de aplicação dos recursos públicos dos estados.
Essa submissão cega levou os governos a insanidade de investir bilhões de reais apenas nas tais arenas, passando por cima de prédios tombados pelo patrimônio histórico nacional; desocupação de instituições públicas, desapropriação de famílias; demolição de equipamentos públicos, devastação ambiental e toda sorte de absurdos.
Contudo, em que pese alguma forma de exagero e total despolitização das manifestações, cabe fundamentalmente aos militantes de esquerda, entender esse “grito” que vem das ruas e particularmente para nós do Partido dos Trabalhados, que há uma década estamos conduzindo mudanças estruturais nesse país, que precisamos compreender que esse movimento não é contra nosso governo ou partido, mas que trás bastante desgaste para ambos e por isso, para defendermos esses avanços, teremos que realmente “ouvir essas vozes que vem das ruas”.
Particularmente acho que o primeiro passo a ser dado é responder a provocação do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, quanto ao financiamento do Passe Livre, que aqueles que optam por transporte privado financiem o transporte público de qualidade e a preço justo.
A luta, mais do que nunca, continua companheiros !!
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