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terça-feira, 2 de outubro de 2012

Viomundo - Paul Krugman e Joseph Stiglitz: É a política, estúpido !

Paul Krugman e Joseph Stiglitz: É a política, estúpido!
publicado em 1 de outubro de 2012 às 21:21

por Jacob S. Hacker e Paul Pierson no New York Review of Books

Resenha dos livros End this depression now! [Acabar com a depressão já!], de Paul Krugman, e The Price of Inequality: How Today’s Divided Society Endangers Our Future [O Preço da Desigualdade: Como a Sociedade Dividida de Hoje Coloca em Risco Nosso Futuro], de Joseph Stiglitz.

Excerto:

Num argumento que se encaixa no dos manifestantes do Occupy Wall Street, [Joseph] Stiglitz insiste que a grande e crescente divisão entre o 1% mais rico e “os outros 99%” não é apenas uma de muitas preocupações, mas a característica definidora de uma economia completamente doente. Podemos ser a nação mais rica do mundo, mas a pobreza cresceu e a mobilidade social entre gerações decresceu mais que em outros paises. Em outros aspectos, nosso modelo está inchado: jogamos mais dióxido de carbono na atmosfera e usamos muito mais água per capita; gastamos muito em saúde, ao mesmo tempo em que deixamos milhões sem cobertura e atingimos, ao final, resultados no setor, quando muito, medíocres.

A razão, de acordo com Stiglitz, é que o alardeado mercado norte-americano está quebrado. E a razão para isso, ele argumenta, é que a economia está sobrecarregada por vantagens produzidas politicamente — acertos especiais que Stiglitz rotula com um termo familiar para os economistas, o rentismo. Ele se refere ao retorno econômico derivado de favorecimento político. Nos trechos mais poderosos do livro, Stiglitz descreve as grandes benesses dadas ao agronegócio, às empresas de energia e a vários outros setores da economia.

Também argumenta que muito da praga de nossa economia aparece sob formas mais sutis, que define — noutro termo familiar para economistas — como “externalidades negativas”, ou custos que agentes econômicos impõem à sociedade, pelos quais não pagam.

Os lucros espetaculares da indústria de energia, por exemplo, dependem pesadamente do fracasso da regulamentação em incorporar todos os custos sociais e econômicos associados à degradação ambiental, inclusive o impacto na mudança do clima. Da mesma forma, as crescentemente agressivas atividades de Wall Street — seja na venda de hipotecas duvidosas, na venda de papéis sem lastro ou no uso irresponsável de derivativos — criam grandes riscos para a economia como um todo. Ainda assim, estes riscos não são considerados nos preços pagos no mercado financeiro. Sem regulamentação eficaz, os custos são bancados por todos nós — mais agudamente pelos milhões que perderam o emprego.

Eliminar esta e outras formas de rentismo promoveria tanto a eficiência quanto a equidade e Stiglitz oferece um amplo leque de ideias para reformas, da regulamentação estrita dos mercados financeiros a leis mais eficazes para combater os monopólios. Mas ele demonstra maior paixão pela reforma política. Ou aqueles no topo se dão conta de que as coisas precisam mudar ou, sugere Stiglitz, o tipo de revolta popular que se vê no Oriente Médio chegará aos Estados Unidos. “De maneira importante”, ele escreve, “nosso próprio país se tornou como aqueles paises, servindo aos interesses de pequena elite. Temos uma grande vantagem, vivemos numa democracia, mas é uma democracia que crescentemente não reflete os interesses de grandes parcelas da população”.

Na verdade, o fato mais marcante destes dois livros de ganhadores do Nobel de economia é a ênfase na política. Os economistas tradicionalmente enfatizam a primariedade dos fatores econômicos. Ao estudar a crescente desigualdade, por exemplo, focam em forças econômicas como o comércio e a mudança tecnológica. Somente em anos recentes (em parte atendendo a apelos de iconoclastas como Krugman e Stiglitz) houve uma mudança em busca de explicação política para os desafios econômicos diante dos Estados Unidos — uma reorientação que traz a economia de volta para a sua concepção original, de economia política.

Ninguém duvida que a economia política dos Estados Unidos mudou dramaticamente em uma geração. Talvez a transformação mais fundamental é a que Stiglitz e Krugman assumem como dado quase sem mencionar: a grande mudança na influência relativa das corporações e dos sindicatos. O grande declínio dos sindicatos fora do setor público (onde agora eles estão sendo combatidos) não afetou apenas o poder de barganha e os salários dos empregados no local de trabalho; também enfraqueceu os grupos organizados mais capazes de defender os norte-americanos mais pobres na arena política.

Acrescente a este desequilíbrio a crescente vazão de dinheiro para a política dos Estados Unidos, vivamente demonstrada na primeira corrida presidencial que acontece depois da decisão Citizens United [NR: Decisão pela qual a Suprema Corte dos Estados Unidos autorizou as corporações a doarem de forma ilimitada]. Os analistas se perguntam se mesmo o presidente Obama conseguirá empatar a disputa. Mas o impacto de grandes doadores e de lobbies altamente partidarizados deverá ser tão grande e muito mais desequilibrado em favor dos republicanos nas batalhas pelo controle do Congresso, especialmente da Câmara Federal. Como na corrida presidencial, os gastos nas eleições parlamentares deverão bater recorde, particularmente com a tentativa do Partido Republicano de manter controle da Câmara.

Além disso, as contribuições de campanha são apenas um pequena fatia dos gastos na política. A energia organizada das corporações e os ricos influenciam todos os aspectos da governança dos Estados Unidos. Isso cobre do lobby direto de autoridades políticas a tentativas de influenciar a opinião de massa e das elites, do trabalho de ativistas conservadores por uma maioria na Suprema Corte que avance uma agenda econômica pró-business ao uso cautelosamente planejado de crises fiscais para promover, nos estados, um assalto frontal aos sindicatos do setor público.

Para o Partido Republicano, o efeito deste novo equilíbrio de poder organizado é a radicalização. Interesses econômicos que apoiam o partido tem muito dinheiro para dar e doam agressivamente. Os doadores tiveram enorme sucesso na criação de organizações que determinam e fazem cumprir uma agenda de extrema direita. Tais organizações incluem a Norte-Americanos por Reforma Fiscal, de Grover Norquist, institutos influentes como a Fundação Heritage e organizações lobistas que atuam nos estados como o American Legislative Exchange Council, financiado pelos irmãos multibilionários Charles e David Koch. Esta marcha direitista foi acelerada pela ascensão do Tea Party — financiado em parte pelos mesmos grupos.

O caso do outro lado é bem diferente. Enquanto a mudança no equilíbrio do dinheiro e da organização encorajou os republicanos a se tornarem mais conservadores, criou incentivos conflitantes para os democratas. Ainda dependentes de sua base tradicional dos sindicatos, em declínio, os democratas buscaram — com crescente sucesso, pelo menos até recentemente — desenvolver bolsões de apoio financeiro junto a corporações. Agora que a indústria financeira se moveu para o Partido Republicano, é facil se esquecer que foi a busca por doadores de Wall Street que permitiu aos democratas atingir paridade financeira com os republicanos nos anos 2000. Ao contrário do Partido Republicano, onde os moderados desapareceram, importantes grupos de políticos democratas se descrevem hoje como centristas (usualmente, são aqueles que buscam o apoio dos homens de negócios). O resultado para o Partido Democrata é uma dança entre o populismo morno e o centrismo comprometido, que frequentemente divide o partido e confunde a mensagem dele.

PS do Viomundo: Infelizmente, os autores da resenha não tocam na questão da mídia, que é a gazua das corporações para fazer parecer que os interesses delas se confundem com o interesse público.

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