Desmistificando avaliações e projeçõespor Vinicius Paiva |
Nos últimos dias, a imprensa vem replicando estudos em verdadeira progressão geométrica – nem sempre com a devida análise ou senso crítico. Ônus dos tempos de mídias ágeis, porém difusoras da “filosofia do Crtl+C, Ctrl+V”. Curiosamente, os protagonistas são sempre os mesmos: Flamengo e Corinthians, atores principais de uma propalada dicotomia que pode ser verificada pela importância dada à partida ontem (vencida com facilidade pelo Corinthians, diga-se de passagem).
O primeiro estudo foi preparado pela BDO RCS Auditores Independentes, e trata do valor da marca dos 17 clubes mais valiosos do Brasil. Segundo ele, o posto de mais valioso pertenceria ao Corinthians, totalizando R$ 1 bilhão, muito à frente do segundo colocado Flamengo (R$ 792 milhões). A avaliação levaria em conta dados financeiros, pesquisas de torcida e o mercado local de cada uma das agremiações.
Fica difícil contradizer os resultados em face à atual fase do Corinthians – campeão da Libertadores, maior receita do país e de conceituadas iniciativas de marketing. Ao mesmo tempo, uma excessiva valorização dos mercados locais – muitas vezes em direção contrária aos resultados do próprio mercado (venda de camisas,pay per view, etc) – faz com que as estatísticas necessitem ser relativizadas.
Adicionalmente, a multinacional BDO por aqui é associada à RCS (antiga RCS Crowe Horwath). Eis que as iniciais “RCS” significam Raul Correia Silva, CEO da empresa. Nada menos que o diretor financeiro do Corinthians. Tendo a concordar com o comentarista Erich Beting quando o mesmo questiona a falta de uma periodicidade na publicação – próximas a quando o Corinthians se encontra no mercado em busca de patrocínio. O descrédito é inevitável.
O segundo estudo é atribuído à Pluri Consultoria, ainda que não conste na lista de relatórios de seuwebsite até o momento. Segundo veiculou-se na mídia, a Pluri afirma – com base em projeções elaboradas sobre as 20 últimas pesquisas nacionais – que a Fiel corintiana ultrapassaria a Nação rubro-negra exatamente no ano de 2028. O cerne da questão reside na pesquisa que a consultoria considera como mais recente: elaborada por ela própria, em março de 2012, com 10.545 entrevistados em 144 cidades. Nela, a liderança flamenguista se daria por meros 4 milhões de torcedores (15% do total nacional, frente a 13% de corintianos).
Embora não aparente, o relatório é nebuloso quanto às metodologias e ao porquê de uma base tão ampla (superior a 10 mil pessoas) ser concentrada em tão poucos municípios (144). Num país de dimensões continentais, é sabido que quanto mais se desconcentra, mais diferentes os resultados – pois diversas capitais apresentam configuração de torcidas diametralmente oposta a seu interior. Prova disto veio em 04/01/2010, quando o instituto Datafolha divulgou pesquisa com 11.258 pessoas em 375 municípios, e o Flamengo abriu larga margem sobre o Corinthians: 19% a 13%.
Evitando injustiças, a pesquisa acima geraria distorções a favor do Rubro-Negro, campeão brasileiro de 2009 poucos dias antes de sua elaboração. Assim, seria mais prudente uma “terceira opinião”, qual seja a pesquisaDatafolha de abril de 2010 (ainda que consultando apenas 2.600 brasileiros) ou mesmo a Lance/Ibope 2010 (7.109 pessoas em 141 municípios). Em ambos os casos, apontou-se para a tradicional configuração nacional: Flamengo com 17%, Corinthians com 13% ou 14%.
Três pesquisas, três metodologias, três resultados: Flamengo 15 x 13 Corinthians. Flamengo 19 x 13 Corinthians. Flamengo 17 x 14 Corinthians. Curioso que o clube da Gávea varie com maior frequência de acordo com diferenças na base amostral – algo que não pode passar à margem de análises do gênero. Da mesma forma, não se pode ignorar que conforme critérios da “última pesquisa”, a “projeção” do ponto de inflexão entre a Fiel e a Nação varia incomensuravelmente. Ao sabor do chutômetro.
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