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terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Nava gestão do Fla marca o seu primeiro 'gol' !!

Paulo Pelaipe: ‘O que marca é colocar faixa no peito do torcedor’
Do ‘resgate’ de Renato Gaúcho ao nascimento da Arena gremista: conheça a trajetória do novo diretor executivo de futebol do Flamengo

Por Alexandre Alliatti e Richard SouzaRio de Janeiro


paulo pelaipe grêmio (Foto: JEFFERSON BOTEGA/Agência RBS)Paulo Pelaipe chega ao Flamengo nesta terça
(Foto: Jefferson Botega/Agência RBS)
Paulo Pelaipe, de 61 anos, chega ao Flamengo nesta terça-feira para comandar o futebol do clube pelas próximas duas temporadas. A equipe do presidente eleito, Eduardo Bandeira de Mello, classifica o diretor executivo como um dos três maiores nomes da gestão profissional do futebol do Brasil na atualidade. Pelaipe trata o desafio como o auge da carreira, marcada por quase três décadas de trabalho no Grêmio. Uma trajetória iniciada na gestão do futebol de salão do clube, no fim da década de 70, e nas categorias de base.

- Esse convite do Flamengo foi o maior presente que eu recebi. Tenho uma gratidão enorme por esse reconhecimento. Chego revigorado, renovado – disse.
Pelaipe presenciou e participou diretamente do nascimento do maior ídolo gremista. Oito meses depois de chegar ao clube, integrou a comitiva tricolor que foi a Bento Gonçalves na calada da noite para contratar Renato Portaluppi, o Renato Gaúcho. A promessa do Esportivo interessava ao Internacional, daí a urgência na viagem para a serra gaúcha.
- Considero um dos episódios mais marcantes da minha carreira no Grêmio, pois foi o início da minha trajetória, estava há oito meses no clube. Fui convidado para ir a Bento Gonçalves buscar o Renato, chegamos lá umas 22h. O pessoal do Grêmio tinha pressa porque sabia que o Internacional também queria o Renato. E em 1983 ele foi protagonista no título mundial do Grêmio (fez os dois gols da vitória sobre o Hamburgo, em Tóquio) e tornou-se o maior ídolo do clube.
Antes de ser executivo, Paulo Pelaipe foi dirigente não remunerado do Grêmio. Atuou como diretor de futebol quando o clube precisou se reestruturar para retornar à Série A. Em 2005, foi campeão da Série B com um elenco montado, em grande parte, por ele. Foi pessoalmente a Caxias do Sul contratar Mano Menezes, então técnico do Caxias - com quem voltaria a trabalhar no Corinthians, no qual atuou como consultor em 2009. A volta do Tricolor Gaúcho à Primeira Divisão é apontada pelo dirigente como um dos momentos mais emblemáticos na passagem pelo Olímpico.

- Foi o maior desafio. O Grêmio tinha meia dúzia de jogadores, enfrentava uma dificuldade enorme de montar o time. Foi todo aquele drama e havia um temor muito grande, pois não sabíamos se o clube teria condições de montar um time se não subisse naquele ano.
Esse convite do Flamengo foi o maior presente que eu recebi. Tenho uma gratidão enorme por esse reconhecimento. Chego revigorado, renovado"
Paulo Pelaipe
Continuou no clube, como dirigente político, até 2008. Da Série B, ajudou a colocar o Grêmio em uma final de Libertadores, em 2007. Foi bicampeão gaúcho - 2006 e 2007. Voltou ao clube em agosto de 2011, desta vez como executivo. Assim, retomou a parceria com Paulo Odone, que também presidia o clube em sua passagem anterior. Com a derrota de Odone para Fábio Koff na última eleição, Pelaipe não seguiria no clube. Despediu-se há pouco com a equipe classificada para a Libertadores da América e com a Arena inaugurada.
- Você pode ser um grande dirigente, mas o que marca são os títulos, o que marca é colocar faixa no peito do torcedor.

Teia de contatos, perfil centralizador e pulso firme
Pelaipe foi responsável por contratações marcantes nas duas passagens pelo Grêmio, como Victor, Réver, Diego Souza, Gilberto Silva, Elano, Zé Roberto. No Grêmio, sempre foi centralizador. As negociações passam necessariamente por ele. Chegou a trabalhar com Rodrigo Caetano, com quem teria se desentendido - o que explicaria a saída de Caetano para o Vasco - atualmente diretor do Fluminense.
- Tenho uma relação muito boa com muitos empresários, mas não sou preso a nenhum empresário. Sempre antes de contratar converso com o treinador. Não adianta contratar por contratar. Não se pode contratar jogador comum, nós vamos procurar contratar titulares para o Flamengo. O clube tem que se abastecer na base. Muitas equipes vencedoras surgem da mescla de experientes e jovens.
Uma das marcas do dirigente é o trabalho de vestiário. Pelaipe é querido pelos atletas, mas tem pulso firme. Jogador desinteressado tende a se dar mal com ele. Teve problemas com atletas como Miralles e Douglas, que deixaram o Grêmio.
Não se pode contratar jogador comum, nós vamos procurar contratar titulares para o Flamengo. O clube tem que se abastecer na base. Muitas equipes vencedoras surgem da mescla de experientes e jovens"
Paulo Pelaipe
- Não faço crítica a jogador, não falo de tática. Não sou dirigente que vai para restaurante com jogador. Respeito a vida dele. Tudo que tenho a dizer eu digo no vestiário, para os atletas. O jogador do Flamengo tem que saber que está vestindo um manto sagrado. Aprendi com meu pai que você tem que saber quem manda. Eu sei quem manda. O Flamengo tem um presidente, tem um grupo gestor e respeito à hierarquia. Ela vem de cima para baixo.
Antes de voltar ao Olímpico no segundo semestre do ano passado, o diretor trabalhou no Fortaleza. Chegou no fim de 2008, conquistou o tricampeonato estadual, mas a saudade da família o fez decidir sair. Passou a fazer consultorias para clubes do Sudeste.
- Espero fazer um grande trabalho para que o Flamengo volte aos títulos. Você pode ser um grande dirigente, mas o que marca são os títulos, o que marca é colocar faixa no peito do torcedor. Espero fazer um trabalho que agrade a direção e torcedores. A maior torcida do Brasil é movida pela paixão, e temos que acender a paixão do torcedor. Sendo campeão, tudo flui melhor no clube. A vitória é uma máquina, impulsiona.
Bronca em Tcheco, chá gelado e rancor com Diego Souza
Alguns episódios curiosos e polêmicos marcaram a passagem de Paulo Pelaipe pelo Grêmio. Casos que dão a dimensão da personalidade do dirigente. Em 2007, antes de um confronto entre Grêmio e São Paulo pelas oitavas de final da Libertadores, o meia Tcheco acusou o clube paulista de falsificar uma assinatura sua em um pré-contrato. Horas antes do segundo jogo, no Olímpico, Pelaipe soube que o jogador ligou para dirigentes do São Paulo para pedir desculpas. Pelaipe ficou revoltado e foi ao quarto do jogador na concentração cobrá-lo pessoalmente.
Duas passagens de 2008 também chamaram a atenção. Demitiu Vagner Mancini logo depois de tê-lo contratado, com o treinador ainda invicto. Ficou preocupado com o clima do vestiário. Não gostou de ver o técnico brindando uma vitória com chá gelado.
Naquele mesmo ano, depois de trazer Diego Souza de volta para o futebol brasileiro, ficou revoltado com a saída do jogador do Grêmio. Em Bento Gonçalves, disse que o jogador era limitado, que só conseguiria jogar bem no Grêmio, e afirmou que o atleta ainda voltaria de graça para o Olímpico. Diego Souza foi para o Palmeiras e acabou eleito craque do Brasileirão.

No último encontro com o Flamengo, em setembro deste ano, Pelaipe teve um problema extracampo no Engenhão. Impedido de entrar no gramado por um segurança, o dirigente envolveu-se numa discussão e foi acusado de ofender o funcionário com palavras racistas. Porém, o caso não foi adiante.
- Isso ficou no passado. No Sul é normal usar o termo negrão – explicou.

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