Hoje o Blog da Repórter publica, e eu republico aqui, e-mail de Chico Cavalcante comentando a entrevista concedida pelo propritário da Link, empresa responsável pela campanha derrotada da governadora (figura ao lado). Vale a pena ler essas manifestações, porque no final nós, humildes militantes, ficamos nos degradiando na base, enquanto "eles", lá em cima, ficam só se desculpando. Tanto faz como tanto fez !!
Eu, particurlamente, volto a insistir na tese de que a Link foi sim a responsável pela derrota, porém em segundo plano, em primeiro, foi a coordenação da campanha, que viu o barco afundando e não fez nada, pelo contrário, se isolou da base.
terça-feira, 16 de novembro de 2010
Chico Cavalcante: a Link é uma fábrica de desculpas
Voltei do meu retiro apenas para postar a mensagem que recebi, por e-mail, do publicitário Chico Cavalcante, em resposta à entrevista com o dono da Link, Edson Barbosa
Vejam o texto na íntegra.
"Publicada no último domingo, a entrevista de Edson Barbosa, titular da Link, expõe de maneira cristalina quatro traços de seu perfil sobre o qual já me havia relatado Ricardo Berzoini, ex-presidente nacional do PT: a inabilidade profissional, a incapacidade analítica, a indigência intelectual e uma capacidade ímpar de fabricar desculpas e terceirizar responsabilidades. Para mediar essas deficiências, ele sustenta sua retórica na mecânica discursiva de um vendedor de carros usados sempre descrevendo perda total como pequenas avarias na carenagem.
Furtivo, Barbosa não responde a nenhuma das questões relevantes levantadas por mim em entrevista no mesmo espaço e, de maneira ostensiva, se esquiva de qualquer responsabilidade, deixando na linha de tiro o PT, a governadora, os prefeitos aliados e a coordenação da campanha, que lhe deram cobertura.
Abre sua sucessão de evasivas com uma frase lapidar: “não é o caso de ficarmos pensando apenas por que ganhou ou por que perdeu”. É claro. Ele não perdeu nada. Trabalhou durante um ano para um governo sem ter disputado nenhuma licitação. Entrou pela janela, ajudando a acentuar as deficiências da gestão e a ocultar suas virtudes e feitos, ganhando rios de dinheiro para isso. Para isolar o peso de sua culpa, afirma que os motivos da derrota “são variados”, o que é uma obviedade da qual deveríamos todos ser poupados.
Quaisquer dos envolvidos em um processo eleitoral sabem que uma eleição não é “uma gincana”, por isso dão ao pleito a importância que deve ser dada e à comunicação o caráter central que de fato ela tem. E essa importância não diminui quando se perde. Ao contrário. Exige maior rigor na análise dos elementos que levaram a esse resultado, especialmente quando se trata de uma candidatura ancorada numa aliança de 14 partidos, alicerçada na máquina de governo e sustentada por um governo federal exitoso contra um adversário em inferioridade de tempo e baseado em uma aliança de forças políticas restrita, como aconteceu aqui.
Ao atribuir a derrota “às disputas na gestão [que] deixaram vulnerável a figura da governadora e geraram dificuldades para que as pessoas percebessem o governo”, Barbosa tenta tirar de si qualquer papel pelos resultados. Mas não consegue se eximir de responsabilidade pela comunicação do governo, que comandou com mão de ferro ao longo de todo o ano de 2010, ignorando inclusive a existência de contratos de prestação de serviços que o governo tinha com oito agências locais.
Barbosa sabe que o alegado “contrato com o Diretório Nacional do PT” foi um arranjo construído às pressas diante das denúncias feitas pelo jornal Diário do Pará, que flagrou a agência trabalhando para o governo do Pará sem contrato. Ao dizer “implantamos um programa intensivo de pesquisas qualitativas e quantitativas e tivemos um diagnóstico muito negativo de avaliação do governo e da governadora” e “recomendamos uma unidade forte da gestão e interação com a sociedade” Barbosa se entrega, já que anuncia nessas frases que o trabalho era para o governo e não para o partido.
Como um cachorro que caiu na mudança, Barbosa revela sua inapetência profissional ao admitir que não sabe exatamente o que aconteceu aqui: “a minha sensação”, afirma ele, “é de que, no Pará, o processo é feito em cima de personalidades e não de projetos”. Ou seja, há especificidades que ele não compreende nem domina, embora jamais tenha tido a humildade de admitir isso antes dessa entrevista. Mas também não entende o escopo geral, que eleição não é uma disputa de projetos, de propostas ou de personalidades, mas sim uma disputa entre argumentos de votos e que vence quem convence o eleitor a reproduzir seu argumento de voto de maneira consistente e extensiva e que a comunicação é peça-chave nesse processo. Uma campanha eleitoral é toda ela, comunicação. Cada ato, cada gesto, cada imagem, cada palavra só vale se comunica o conceito. E que conceito a Link quis comunicar? Barbosa não sabe.
A análise evasiva de Barbosa briga com os fatos. A frase “a eleição foi pau a pau” descreve uma realidade outra, que não a nossa. Sensação que se amplia na assertiva “se no domingo, antes da eleição, Jader tivesse batido na mesa e declarado voto em Ana, as coisas poderiam ter sido diferentes”, sem levar em conta que os elementos que afastaram a possibilidade de aliança com o PMDB não se resolveriam em um ato mágico. Ao mesmo tempo, nada diz da ratada que cometeu ao fazer uma abordagem descuidada de questões relevantes, como as do Hospital de Ipixuna e da Fábrica de Chocolate, elementos que geraram perda de votos e aumentaram a rejeição de sua cliente.
Ao defender-se de montar uma equipe que não entendia a realidade do estado e os agentes políticos envolvidos no processo, Barbosa mais uma vez se ausenta, ao dizer que a área de jornalismo estava com Ruth Viera, a produtora (responsável pela direção de imagens da campanha) era a Digital, do Fernando Pena de Carvalho e o diretor de criação da campanha seria Glauco Lima, ex-DC3. Tal afirmação é pura deslealdade. Das 126 pessoas que formavam a equipe da Link em Belém, eram as 25 de fora que tinham posição de mando. Nenhuma das pessoas citadas por Barbosa efetivamente tinha o comando das áreas citadas.
Instado a responder diretamente às críticas feitas por mim, Barbosa não o fez. Ao invés disso, tentou me incorporar ao comando kamikase que dirigiu, ao afirmar que eu teria dito “tudo que queria”, “sem censura” e que minhas proposições teriam sido recusadas “pelo cliente”. Isso, definitivamente, não aconteceu.
Faltando 10 dias para a eleição no primeiro turno, compareci a uma única reunião na Digital na companhia de João Batista, Marcos Oliveira e André Farias, da coordenação da campanha, a convite da presidência do PT local. Na cabeceira da mesa, sinalizando poder de mando, Barbosa abriu a reunião apresentando uma pesquisa que dizia que Ana Júlia crescia e que tudo o que ele estava fazendo era o que deveria ser feito, que a base da comunicação ruim que fazia era “científica” e que as críticas eram equivocadas, infundadas, baseadas em pura “ignorância”.
Nessa única intervenção que fiz ao longo de toda a campanha, relatada na entrevista ao Diário, apresentei proposta que incluía uma remodelação do conceito de campanha, a alteração de conteúdo dos programas, do modo de apresentação da governadora na TV, de regionalização das inserções e de configuração diferenciada para o programa de rádio, de acordo com o que definira o PT em reunião realizada dias antes desse encontro na Digital. João Batista, presidente do PT no Pará, manifestando parecer coletivo, classificou a comunicação de campanha feita pela Link simplesmente como “uma merda”. Barbosa então teve um ataque de nervos. Gritou, bateu na mesa, disse que ele estava “salvando Ana Júlia”, que a governadora estava desacreditada por todo mundo antes dele chegar aqui e que a Link estava fazendo a campanha não por dinheiro, mas por “pena”, “generosidade” e “compromisso político”; disse ainda que fazia a campanha de Paulo Rocha “de graça” e que o candidato tinha “problemas”, alegando que Rocha era um candidato “difícil de apresentar na TV”. De maneira deliberada, tomou a diretriz de esvaziar a reunião, falando durante quarenta minutos seguidos. A reunião esvaziou porque todos ali tinham mais o que fazer do que ficar ouvindo suas desculpas e destemperos.
No dia seguinte, notas comprometedoras surgiram nas colunas de jornais locais, dando a entender que eu estaria me assenhorando da campanha, numa clara iniciativa para me antagonizar com a coordenação de campanha. Tomei, desde então, a decisão de silenciar e não apresentar mais qualquer manifestação acerca de uma campanha na qual não era bem-vindo.Como na campanha, Barbosa segue manipulando informações e números. Atribui a si a votação de Paulo Rocha e a ida sofrida de Ana Júlia ao segundo turno, assim como o crescimento de Ana Júlia de 36 pontos para 44 pontos no segundo turno, sem levar em conta os dados históricos de votação da legenda e a reacomodação inercial de votos à esquerda na própria sociedade, ignorando que sem o crescimento surpreendente do PSOL Ana Júlia não teria ido nem para o segundo turno. Dizer que Ana “venceu o segundo turno” porque cresceu oito enquanto Jatene foi de 49 para 54, “crescendo apenas cinco” não leva em conta que o PT tem potencial para partir de cerca de 1/3 dos votos no Pará seja qual for o candidato e que Jatene já teria votos suficientes para liquidar a fatura na primeira volta não fosse a performance de Fernando Carneiro.
Incapaz de autocrítica, Barbosa afirma que o Titanic que comandou aqui consistiu em “uma experiência técnica extremamente qualificada”. Atribui a si o governo Lula ter sido reconhecido no Pará, Dilma ter vencido no Pará e arremata com a mãe de todas as desculpas: “a comunicação não ganha nem perde eleição”. Se for verdade que comunicação não ganha nem perde a eleição, por que os custos de comunicação são os mais altos item a item no mix de uma campanha eleitoral? É verdade que comunicação sozinha não ganha eleição, mas pode sim ser um elemento ativo na derrota. Aqui, foi um fator de peso.
Barbosa diz que minhas críticas me “diminuem” como profissional porque seriam “críticas descuidadas” de uma realidade que não estudei. Em primeiro lugar não são críticas descuidadas, já que tomam como referência o conhecimento consistente que tenho da realidade local, dos agentes políticos em contenda e das ferramentas do marketing político, adquiridos não apenas por formação acadêmica, mas também por 25 anos de atividade no setor. Tampouco as críticas me diminuem. Ao contrário, me situam como um agente pensante no processo mesmo estando ausente de uma intervenção prática nas eleições majoritárias no Pará em 2010. Quem sai menor dessa campanha é Barbosa e sua empresa, que chegaram aqui como salvadores da pátria e saem como coveiros de um sonho que o PT lutou 30 anos para realizar.
A entrevista de Edson Barbosa não deixa dúvidas: a Link não passa de uma grande fábrica de desculpas".
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