Num dia em que toda a zona do Euro, incluindo Alemanha e França, travaram uma "queda de braço" com agencia americana classificadora de risco Standard & Poor's, fica a evidência de como todo esforço de 15 nações da União Européia para resolver seus problemas econômicos, pode ser simplesmente desafiado por um único agente do tal "mercado livre".
Leia abaixo matéria sobre o assunto e entenda o caso.
A Standard & Poor`s explicou hoje que o `rating` dos 15 países colocados segunda-feira em vigilância negativa será avaliado de acordo com a proposta para resolver a crise que sair do Conselho Europeu desta semana e se esta "é suficiente".
Numa teleconferência, o analista da Standard & Poor`s, Moritz Kraemer, destacou a grande importância do Conselho Europeu que se realiza nos próximos dias 08 e 09 de dezembro, para os `ratings` destes países e sublinha que este tem de ser um ponto de viragem.
"Esta é altura de dar a volta a isto. (...) Alguma coisa terá de mudar, mais do mesmo não vai resultar", disse o analista.
A agência sublinha que as decisões tomadas no Conselho Europeu serão avaliadas de acordo com o pacote em geral e se este "é suficiente para dar a volta à situação".
Sobre o pacote de medidas necessário para controlar a crise que afeta a zona euro, e que a agência considera já sistémica e não de apenas alguns países, a Standard & Poor`s diz que será necessário um pacote "muito mais alargado" do que seria há um ano.
No comunicado enviado esta segunda-feira a Standard & Poor`s já tinha criticado e colocado como um dos fatores para a ameaça do `rating` dos países da zona euro, a má governança e falta de capacidade de gestão de crises pelos líderes e autoridades europeias.
Quanto ao Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF), o analista diz que este pode sofrer um corte de `rating` de um ou mais níveis caso sejam cortados os `ratings` de um ou mais países da zona euro com notas máximas (AAA), mas acrescentou ainda que existem atenuantes para este possível corte, como a liquidez, as garantias ou outros apoios ao FEEF.
Na final do dia de segunda-feira a Standard & Poor`s colocou sob vigilância negativa os `ratings` de 15 países da zona euro - com exceção dos que já estavam a ser reavaliados para um possível corte, como é o caso da Grécia - apontando o caráter sistémico da crise e o facto de esta ser, na opinião da agência, nesta altura já uma crise da zona euro e não apenas de alguns países.
Durante a tarde de hoje foi também colocada sob vigilância negativa o `rating` do FEEF, que fica dependente das notas dos seis países da zona euro com `ratings` AAA.
A agência diz que o prazo para tomar uma decisão sobre estes `ratings` é de 90 dias, mas que espera decidir a questão mais cedo.
Agora publico a síntese e os link's de duas postagem e a íntegra de uma terceira retiradas do Portal Carta Maior para nossa reflexão sobre o assunto.
A crise, os banqueiros e a intervenção do Estado
Na crise de 1929, quase todos os grandes países entenderam que a questão se centrava no desemprego e que era necessária a intervenção do Estado nas atividades econômicas, a fim de dar trabalho aos homens e, com ele, a produção de bens de consumo à sociedade.
Mauro Santayana
OCDE: Desigualdade de renda cai no Brasil e sobe nos países ricos
Novo estudo da insuspeita organização, que reúne países ricos e emergentes como o México, reconhece importância do Estado para "enfrentar" mercado e reduzir diferença de renda entre as pessoas, defende que ricos paguem mais impostos e ainda pede elevação das taxas sobre propriedade e riqueza. Apesar do avanço na última década, Brasil segue entre os campeões de desigualdade.
Marcel Gomes
O fascismo de mercado
Gilson Caroni Filho
A crise econômica capitalista, em especial nos Estados Unidos e na zona do euro, começa a dar lugar a golpes e contra-golpes entre os seus principais atores. Entre eles o receituário apresentado liturgicamente desde os anos 1990. As reuniões de cúpula que os chefes de governo ocidentais realizam não se caracterizam pelos seus aspectos resolutivos, mas pelo vazio de suas proposições.
Ao propor que os orçamentos dos países sejam aprovados primeiro pela UE, antes de ir para seus Parlamentos - com punição a quem não cumprir metas de redução de dívida e déficit - a chanceler alemã Ângela Merkel deixa claro que soberania nacional é um conceito em desuso, uma velharia a ser removida. Frente à crise imposta pelos princípios liberais globalizantes, notadamente o "salve-se quem puder" e o "que sobreviva o mais capaz”, que apareciam como mantras nos melhores manuais de desregulamentação, a única saída é a "fuga para frente" proposta pelos neoliberais radicais. Deixando governos de pés e mãos amarrados, a falsa solução passará pela perda de prerrogativas governamentais de conceber e executar políticas econômicas que atendam aos legítimos interesses dos países e dos povos.
Na verdade, chegou-se a fórmulas gerais que podem ser interpretadas de várias maneiras e que, de qualquer forma, não envolvem compromisso algum com qualquer esfera que não seja a do mercado. Insistir nas privatizações do que resta de estatal (quase nada), em ajustes fiscais, e no maior enfraquecimento do Estado, é consolidar o poder do FMI, do Banco Mundial, das instituições financeiras internacionais e a chantagem das agências de classificação de risco.
Todo cuidado é pouco para não tropeçar nas palavras e escorregar nos conceitos. Mas essas transformações e essas metamorfoses significam um "retorno" ao império das leis do funcionamento da economia mercantil- capitalista, temporariamente represadas por obra e graça da rebelião democrática do imediato pós-guerra, que ensejou a Grande Transformação.
Como recordou o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, "em sua essência, as práticas do Estado intervencionista e do Bem-Estar buscaram, por meio da aplicação política de critérios diretamente sociais, encontrar soluções para os problemas de satisfação das necessidades humanas e da vida decente para a maioria, negando, assim, as condições de existência impostas ao cidadão pela "ratio" do capital, cujo único propósito é acrescentar o seu valor."
A vitória do reformismo liberal fez recuar as tentativas de domesticar a mercantilização universal e a concorrência sem quartel. Na Europa, a social-democracia passa a ocupar uma posição de centro-direita rasgando a máscara da "terceira via", que fez grande sucesso e gerou expectativas em toda a esquerda do continente. Antes mesmo da crise do euro, os serviços públicos , como saúde, educação e transporte, conheceram uma considerável piora. Ainda no final do século passado, críticos de esquerda acusavam o então primeiro-ministro britânico Tony Blair de impor ao Reino Unido um “thatcherismo” com rosto humano.
Quando o capital financeiro estabelece sua supremacia, a cidadania é suprimida. Os sistemas de crédito e os dispositivos do mercado passam a se encarregar dos desígnios despóticos do capital sobre a massa de trabalhadores e os países mais fracos. É isso ao que estamos assistindo no sul da Europa. Algo que, guardadas as devidas proporções, vivemos na América Latina durante duas décadas. Por meio de disciplinas e sanções, sempre legitimadas na grande mídia, o fascismo de mercado se instala.
Fora da política não há salvação. Como bem sabemos por aqui.
Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Jornal do Brasil.
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