BLOG DO VICENTE CIDADE

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sexta-feira, 4 de março de 2011

Por que continuar elevando a taxa de juros no Brasil ?

Em meio a divulgação do excepcional crescimento do PIB brasileiro apresentado em 2010, ficou a certeza de que alguma coisa está fora de rota e que a presidente Dilma precisará ajustar urgentemente o ritmo desse “samba”.

Sabemos que hoje o principal compromisso do governo é com a estabilidade econômica do país, sem contudo, comprometer os avanços recebidos como herança da Era Lula como a redução das desigualdades e inclusão social, associado a uma política de recuperação dos investimentos públicos.

A economia brasileira vive hoje um momento ímpar em sua história, com o crescimento econômico sendo acompanhado pela melhoria na qualidade de vida das pessoas, diferentemente de outros períodos de crescimento, onde ocorria concentração da riqueza e aumento do fosso entre ricos e pobres, mais desta vez foi o contrário, graças às políticas sociais de distribuição de renda e a política de valorização do salário mínimo.

Nos últimos oito anos, o país gerou cerca de 15 milhões de novos empregos formais, elevou mais de 30 milhões de brasileiros a condição de classe C e trouxe para o mundo do consumo mais de 20 milhões de brasileiros que viviam à baixo da linha da pobreza. Ao lado da expansão da renda o país também experimentou uma explosão na política de crédito. Com este novo cenário econômico o Brasil passou a experimentar uma explosão de crescimento no seu consumo interno, responsável inclusive pelo Brasil não sofrer tanto as agruras da crise econômica de 2008.

Em resposta ao pedido do presidente Lula o Brasil foi às compras e rapidamente as políticas expansionistas adotadas pelo governo surtiram efeito. Ocorre que junto com este cenário positivo veio também o negativo, e a inflação voltou a ser um elemento de grande preocupação. O rápido crescimento da demanda interna não foi acompanhado pelo crescimento da oferta, o desequilíbrio, obviamente, resultou num ajustamento dos preços para cima.

A política monetária, tradicional antídoto usado para conter a inflação, começa então a ser utilizada, trazendo um novo ciclo de elevação da taxa básica de juros. Ocorre que mesmo aumentando o custo do crédito, a massa de “novos consumidores” da economia brasileira não permite mais que esse instrumento alcance a mesma eficiência de outrora, isso porque essa massa não se sensibiliza só ao juros do crediário, mas ao valor da parcela. Como conseqüência desse fenômeno, o consumo não se retrai nos patamares desejados e a inflação não recua para índices mais próximos a meta de 4,5% anuais.

Por outro lado, a elevação dos juros afeta o custo dos investimentos privado, aumenta a dívida pública e impõe maiores restrições aos gastos do governo, afetando inclusive os investimentos do PAC. Isso porque o superávit primário, que é o resultado positivo das contas públicas, são recursos usados para o pagamento dos juros e, quando superiores a eles, são usados para a quitação de parte das dívidas.

No Brasil existe uma meta a ser alcançada, que é de aproximadamente 3,5% do PIB, essa meta visa dar maior segurança aos credores e investidores internacionais. Contudo, quanto maior os juros, maiores serão os desembolsos com pagamento de juros e por conseguinte maior será a necessidade de superávit primário.

Portanto, a pergunta é pertinente: se o aumento da taxa básica de juros não resolve o problema da inflação, mas cria outro monte para as contas públicas, porque insistir nessa política?

Nos últimos 15 dias o governo deu sinais de que alguém anda desafinando o samba do bloco. Ao mesmo tempo em que o governo fincou o pé no valor do mínimo de R$ 545,00, cortou R$ 50 Bi do orçamento de 2011, o Banco Central aumentou a taxa básica de juros – a taxa SELIC, o governo reajustou o vencimento do programa Bolsa Família e capitalizou o BNDES em R$ 55 Bi para novos financiamentos. O que quer o governo ?

Pra mim, apesar da confusão de anunciar medidas para expandir e contrair a economia ao mesmo tempo, a política menos acertada dentre todas foi a de elevar a taxa SELIC, até porque o próprio Banco Central sabe que ela será inócua, o faz apenas para não demonstrar inoperância ao mercado.

Esta na hora do país rever seus conceitos e partir para políticas mais efetivas de combate a inflação sem estagnar o país. Acredito que um bom caminho para isso seja uma Reforma Tributária, que permita ao país estabelecer uma urgente política de crescimento industrial, com juros subsidiados e facilitação do acesso ao crédito produtivo. O Brasil precisa urgentemente aumentar a sua produção, com ganhos de escala e aumento de produtividade.

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