Por Aluísio Alves
Ag. Reuters
A maior expansão anual da economia brasileira em mais de duas décadas foi recebida com otimismo contido nesta quinta-feira, enquanto o governo luta para controlar a inflação crescente e lidar com o câmbio valorizado para ter um crescimento sustentado em 2011.
O relatório do IBGE apontou avanço de 7,5 por cento Produto Interno Bruto em 2010, um dos maiores do mundo e o mais alto do próprio país desde 1986. O número foi coroado com expansão recorde da indústria e da formação bruta de capital fixo, um medida de investimento.
Mas as atenções se voltaram para os dados do último quarto do ano, que apontaram crescimento de 0,7 por cento em relação ao trimestre anterior. Os números do período mostraram vigor no consumo privado, enquanto indústria e agronegócio encolheram.
"A demanda doméstica continuou sendo o grande suporte da economia", resumiu Alexandre Tombini, presidente do Banco Central, cujos diretores decidiram na véspera elevar o juro básico em 0,5 ponto, para 11,75 por cento, movimento que se somou a cortes no Orçamento e medidas para desacelerar o crédito no esforço para conter o ritmo da atividade econômica.
CRESCIMENTO SUSTENTADO
Com isso, em vez de euforia, os membros do governo alinharam discurso na direção de um crescimento sustentado em 2011, incentivo aos investimentos, controle da inflação e possíveis novas medidas para aliviar os efeitos do real caro.
"Os 7,5% (por cento) devemos saudar, mas vamos sempre buscar uma taxa bastante razoável de crescimento, 4,5 a 5 (por cento), que seja sustentável e permanente", disse a presidente Dilma Rousseff a jornalistas. "Com um olho nós vamos olhar para a questão da estabilidade e com o outro nós vamos olhar para a questão da ampliação do investimento."
Em outra entrevista a jornalistas, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que "em 2011 nós vamos ver que a economia já está desacelerada, portanto já está num crescimento sustentável".
Mantega aproveitou para anunciar um repasse de 55 bilhões de reais do Tesouro Nacional para BNDES este ano, dentro da terceira etapa do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), lançado para estimular principalmente o investimento em infraestrutura.
A preocupação com a inflação lastreia-se no fato de que o índice de preços ao consumidor IPCA, usado como parâmetro para o sistema de metas, acumula alta de 5,99 por cento nos 12 meses até janeiro, bem acima do centro da meta anual de 4,5 por cento, refletindo fatores sazonais e a alta das commodities.
No caso da produção, o recuo de 0,3 por cento da indústria e de 0,8 por cento da atividade agropecuária no quarto trimestre, temperado por crescentes déficits na balança comercial, incorreu na contribuição negativa desses setores ao PIB trimestral.
"O grande consenso é que o crescimento corre em duas velocidades: os consumidores ainda são o principal fator de expansão, e os exportadores estão ficando para trás", disse Neil Shearing, economista sênior de mercados emergentes da Capital Economics.
Para o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), esta é uma indicação ruim para 2011.
"As perspectivas de desaceleração em 2011, juntamente com as dificuldades para as exportações criadas pela valorização do câmbio e a elevação das taxas de juros são fatores que podem inibir fortemente as intenções de investimentos em 2011."
(Para ver o relatório do IBGE, clique em http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1830&id_pagina=1)
(Reportagem de Rodrigo Viga Gaier, Brian Ellsworth e Stuart Gruddings, no Rio de Janeiro, Isabel Versiani e Jeferson Ribeiro, em Brasíia, e Silvio Cascione e Luciana Lopez, em São Paulo)
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