A realização de eventos mundiais como a Copa do Mundo de Futebol e os Jogos Olímpicos no Brasil deveriam ser encarados como símbolos de uma nova fase de prosperidade para o país. A materialização mais perfeita da sua entrada no hall dos países mais importantes do mundo. Entretanto, o que deveria ser encarado como a redenção do país, corre o risco de se tornar um verdadeiro fiasco nacional.
Antes que alguém diga se tratar de “papo” de invejoso, principalmente porque Belém foi preterida à Manaus, aviso logo, não é nada disso. A motivação dessa postagem é pelo fato de que o privilegio de sediar jogos da copa 2014, gradativamente está se transformando no privilégio de ter prioridade nos investimentos nacionais. Ou seja, 12 entre os mais de 5.500 municípios do Brasil, se tornaram prioridades nacionais pela “benevolência” de cidadão que já foi alvo, inclusive, de uma CPI do Congresso Nacional.
Mutretas a parte, de fato não seria possível realizar a copa em todos os municípios do país, se quer em todos os Estados, mas, daí esse evento se transformar num claro e evidente processo de desigualdade, é absolutamente inaceitável. Que o setor privado tenha a sua lógica de alocação dos investimentos preferencialmente nas 12 cidades onde ocorrerão jogos da copa é compreensível, agora, aceitar que a União estabeleça políticas públicas específicas para essas 12 cidades é, no mínimo, “bizarro”.
Minha observação (e por que não dizer indignação, não pelo programa em si, mais pelo seu alcance) é motiva pelo lançamento do Programa (mais um direcionado à copa) Bolsa Copa, vinculado ao Ministério da Justiça, que estabelece, mediante a certas exigências, uma remuneração adicional nos proventos das corporações da área de segurança, especificamente para os doze estados onde ocorrerão os jogos da copa. Ora, então os outros 15 estados não devem se preparar para o evento. O fluxo de visitantes da copa ocorrerá única e exclusivamente nos 12 estados apadrinhados pelo “todo poderoso” Ricardo Teixeira, presidente da CBF.
Acredito que o papel da União deva ser o contrário, possibilitar chances para que todos os estados, inclusive os não agraciados, também possam participar desse esforço nacional pela transformação do país, ou seja, produzir políticas compensatórias que no lugar de concentrar esforços, estimule o enraizamento das oportunidades e isso pode ser feito de várias formas, sem privilégios.
A título de exemplo, podemos sugerir que o governo federal, a partir de um estudo técnico, estabeleça que alguns estados não contemplados possam servir como ponto de chegada/partida de rotas aéreas internacionais, de forma que esses estados tenham a possibilidade de estabelecer estratégias que permitam algum aproveitamento desse fluxo. No caso específico da Amazônia, vôos internacionais com destino a Manaus, passariam necessariamente por Belém. Nesse caso seria fundamental os investimentos na infraestrutura da região metropolitana de Belém, Marajó e Santarém, por exemplo.
Portanto, é preciso entender que a Copa 2014, só deixará, de fato, um grande legado para o país, se os agentes públicos forem capazes de nacionalizar os benefícios e distribuir a sinergia do evento para todos os estados. Não possível que os poucos avanços que conseguimos ao longo tantos anos de tentativas de ações na direção da diminuição das desigualdades regionais possam retroceder por conta de um evento.
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